Honorina Pierucci Giometti (1911 - 1997)
revisão: Wilza A.Matos Teixeira
publicado no Diário de Marília de 2 Abril 2016
revisão & adição posterior: Carlus Maximus
As terras de Marilia foram desbravadas pelo sertanista Antonio Pereira da Silva e seu filho Jose Pereira da Silva. A fertilidade de seu solo atraiu gente de São Paulo e demais estados trazendo levas de aventureiros, não a procura de ouro ou esmeraldas, mas para plantar cafezais e colher o 'ouro verde com frutos cor de rubi', que tinha muito valor no mercado internacional (até a crise da bolsa de New York em 1929). Daí o nome original de Marilia: Alto Cafezal.
Bento de Abreu Sampaio Vidal entra na história do patrimônio pois possuía vasta gleba de terra na região e foi vendendo fazendas àqueles chegavam com algum capital. A maioria vinha apenas com os braços para trabalhar ou comprar um terreno para construir uma casa de madeira ou montar uma lojinha.
O desmatamento veio primeiro, e com ele a industria madeireira se expandiu. A primeira serraria do Alto Cafezal pertenceu a Salvatore Scarpetti, italiano que chegou à região circa 1924 acompanhado de seu filho Jayme Scarpetti, originarios de Limeira-SP, onde deixaram a família para posterior reunião, que acabou nunca acontecendo. Vestígios dessa primeira serraria, até ha pouco, podiam ser vistos através da Escola de Ballet Eliana Fanutti, nos fundos da Rua Rodrigues Alves.
A segunda serraria foi instalada por José Giometti, na Rua Tamandaré, fundos com a Rua XV de Novembro. Logo depois, os irmãos Casadei compraram a Serraria de Salvatore Scarpetti e a transferiram para a Avenida Sampaio Vidal até os anos 1950s quando ali foi construída a Agência dos Correios de Marília. Os irmãos Casadei eram proprietários de todo aquele quarteirão, no qual foi construído também o Instituto Senai.
A terceira serraria se situava na Rua Independência, do 'outro lado da linha' da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e pertencia a Manoel Pereira, homem popular que anos depois se tornaria vice-cônsul de Portugal.
A quarta serraria ficava num quarteirão da Rua 7 de Setembro e pertencia a João Baptista Colesi.
Em 1928 um ramal da Companhia Paulista de Estrada de Ferro chega ao Alto Cafezal para alegria geral da população. As estações ferroviárias da Cia. vinham recebendo nomes em ordem alfabética a partir de Alba (ex-America) aberta em 1924, Brasilia, Cabrália Paulista, Duartina, Esmeralda, Fernão Dias, Galia, H, I, Jafa, Kentuckia e Lácio. O patrimônio do Alto Cafezal teria que trocar seu nome por um começado com a letra M.
Sendo assim, Bento de Abreu, que se tornara o cidadão mais prominente do Patrimônio escolheu o nome de Marília, advindo do poema 'Marília de Dirceo', escrito pelo inconfidente Thomas Antonio Gonzaga e publicado em Lisboa em 1792. Bento tinha lido esse livro durante a passagem de navio que fizera para a Europa pouco tempo antes.
http://blogdogiesbrecht.blogspot.com.br/2014/11/a-lendaria-linha-de-cabralia-paulista.html
Bento de Abreu Sampaio Vidal entra na história do patrimônio pois possuía vasta gleba de terra na região e foi vendendo fazendas àqueles chegavam com algum capital. A maioria vinha apenas com os braços para trabalhar ou comprar um terreno para construir uma casa de madeira ou montar uma lojinha.
O desmatamento veio primeiro, e com ele a industria madeireira se expandiu. A primeira serraria do Alto Cafezal pertenceu a Salvatore Scarpetti, italiano que chegou à região circa 1924 acompanhado de seu filho Jayme Scarpetti, originarios de Limeira-SP, onde deixaram a família para posterior reunião, que acabou nunca acontecendo. Vestígios dessa primeira serraria, até ha pouco, podiam ser vistos através da Escola de Ballet Eliana Fanutti, nos fundos da Rua Rodrigues Alves.
A segunda serraria foi instalada por José Giometti, na Rua Tamandaré, fundos com a Rua XV de Novembro. Logo depois, os irmãos Casadei compraram a Serraria de Salvatore Scarpetti e a transferiram para a Avenida Sampaio Vidal até os anos 1950s quando ali foi construída a Agência dos Correios de Marília. Os irmãos Casadei eram proprietários de todo aquele quarteirão, no qual foi construído também o Instituto Senai.
A terceira serraria se situava na Rua Independência, do 'outro lado da linha' da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e pertencia a Manoel Pereira, homem popular que anos depois se tornaria vice-cônsul de Portugal.
A quarta serraria ficava num quarteirão da Rua 7 de Setembro e pertencia a João Baptista Colesi.
Em 1928 um ramal da Companhia Paulista de Estrada de Ferro chega ao Alto Cafezal para alegria geral da população. As estações ferroviárias da Cia. vinham recebendo nomes em ordem alfabética a partir de Alba (ex-America) aberta em 1924, Brasilia, Cabrália Paulista, Duartina, Esmeralda, Fernão Dias, Galia, H, I, Jafa, Kentuckia e Lácio. O patrimônio do Alto Cafezal teria que trocar seu nome por um começado com a letra M.
Sendo assim, Bento de Abreu, que se tornara o cidadão mais prominente do Patrimônio escolheu o nome de Marília, advindo do poema 'Marília de Dirceo', escrito pelo inconfidente Thomas Antonio Gonzaga e publicado em Lisboa em 1792. Bento tinha lido esse livro durante a passagem de navio que fizera para a Europa pouco tempo antes.
http://blogdogiesbrecht.blogspot.com.br/2014/11/a-lendaria-linha-de-cabralia-paulista.html
Em 1929, já estabelecida como município, algumas casas já eram construídas com tijolos, adquiridos na Olaria dos Irmãos Bertonha (Bertogna originalmente), que trouxeram o primeiro trator para o povoado.
Apesar da crise financeira de 1929-1930s, Marília se expandia, embelezando a Avenida Sampaio Vidal com prédios como o Hotel São Bento de Benedicto Faria, que permanece até nossos dias; o Banco São Paulo, na esquina da Rua Ceará, cujo primeiro gerente foi Agenor Gomes; no quarteirão da antiga Caixa Econômica Estadual havia a Sapataria de Joaquim Felizardo, demolida para construírem a Casa Bancária Almeida, que daria origem ao Bradesco.
Ainda na Avenida surgiu o sobrado de Miguel Pedro, ao lado do Banco Econoômico, que era alugado para a Casa Lotérica do sr. Freitas; a casa do Dr. Edmundo Freire, demolida nos anos 1990s; a Casa Bancária Martins Milhomens funcionava onde hoje existe a Friolar.
Ao lado das construções citadas, coexistiam casas de tábuas: onde hoje é o Unibanco, havia a Farmácia Santa Carolina de Venâncio de Souza Pinto, que era habitual encontro de políticos da época, possuindo um pé de primavera, que quando florido, embelezava a avenida. A esquina onde hoje existe o Bradesco havia o posto de gasolina de Justino Franco; em frente onde hoje está o Comind, havia a alfaiataria de Guido Traballi. No lugar onde construíram o Cine Marília em 1939, havia a Casa Tabajara de Luciano Nogueira.
Na esquina da Avenida com a Rua Tamandaré (Rua 9 de Julho a partir de 1934) residiu Dr. Durval de Menezes, o primeiro prefeito de Marília numa casa chamada carinhosamente de Villa Marinette, nome da primeira-dama. Na esquina da rua Ceará (atual agência do Banco América do Sul) funcionava o Hotel Avenida; do lado oposto, no meio do quarteirão, numa casa grande pertencente a Luiz Mana, funcionava a Fabrica de Gelo Cristal. Foi nessa casa que o Dr. Victor Gianvecchio, o primeiro dentista de Marília instalou seu gabinete.
Num inesquecível casarão de tábuas (atuais prédios Santa Luzia e Ouro Verde) funcionou o I Grupo Escolar de Marília. Foi nessa imensa casa, desprovida de luxo, que os filhos dos pioneiros aprenderam as primeiras letras e adquiriram valores e conhecimentos. Seguindo-se na direção leste havia a maquina de beneficiar arroz de Mazziotti e Quilles, onde depois se construiu o Gymnasium em 1940. A Avenida Sampaio Vidal terminava nesse ponto. Além, algumas chácaras e a solidão dos locais despovados.
No lado oeste da Avenida, além da Serraria Casadei (onde se ergueu o Correio nos anos 1950s), os trilhos da Cia.Paulista e bem distante, a máquina de café de José Fróio, onde depois se construiu a Fabrica de Cerveja Bavaria.
O Cine-Theatro São Bento, de propriedade de Luciano Nogueira, ficava na Rua Espirito Santo, atual Rua Armando Sales de Oliveira. Este, na verdade era o segundo cinema da cidade, já que o primeiro era do pai de Jupira Souto, na Rua Tamandaré (futura Rua 9 de Julho).
Em 1929, nós da família Pierucci, morávamos numa pequena casa do Major Antonio Nunes, na rua Tamandaré (Rua 9 de Julho a partir de 1934). Eram nossos vizinhos, de um lado, Zoroastro de Souza, mais conhecido pelo apelido de Zizi, casado com a Áurea. Do outro lado, João Zaninoto, sua mulher Isabel e 4 filhos. Zazinoto era fiscal da Prefeitura, andava sempre com uma luxuosa bengala e tinha muitas posses, entre as quais um carro Ford, dirigido pelo Zezinho 400, pois o automóvel fora emplacado com o numero 400.
Mais adiante, na Tamandaré, moravam as famílias Crisiconi e Gaiotti. Como se nota pelos sobrenomes, tirando Zoroastro de Souza, éramos todos descendentes de italianos.
De frente a nossa casa moravam a família Jordão e Herculano Salzedas, fornecedor da Cervejaria Antarctica. A casa de José Giometti era de alvenaria e ficava na esquina de nosso quarteirão, bem defronte a casa do Dr. Manhães, também de tijolos. Bem perto, estava sendo construído o Cine São Luiz em terreno adquirido por Eugênio Domingues, que morava onde atualmente (1990) é a Tapeçaria Chic.
Ainda na rua Tamandaré (Rua 9 de Julho), no local onde está a Casa Yamamoto (1990) havia a pequena Cadeia Pública, um açougue de Pedro Alpino, uma tipografia de Alcides Magalhães e sua mulher Clotilde, que o auxiliava nas impressões. Havia outro açougue, onde depois se estabeleceu o consultório do dr. Osvaldo Carvalho. No prédio residia um velhinho que passava o tempo todo sentado à porta. As moças da época o apelidaram de 'Meu Tempo' em razão de que, invariavelmente, ao ver qualquer moça bonita passar por ele, dizia: 'Ai, no meu tempo'...
Terrenos baldios e poucas outras casinhas de tábuas... assim era a Rua Tamandaré, que teria seu nome mudado em 1934. Na verdade, transferiram o nome Tamandaré ou Almirante Tamandaré para uma rua que 'saia' da Rua D. Pedro II.
Erguida no topo de um barranco, topo de um monte, a capelinha de pau-a-pique em louvor a Santo Antonio, ali fora localizada para poder divisar, em todas as direções o que viria a ser uma grande cidade. Para o sul, se via a Avenida Sampaio Vidal e a linha da Cia. Paulista. Para o norte se via o Cemitério e os grandes cafezais por todos os lados. Muito frequentada e querida dos devotos, sempre compareciam às Santas Missas, os irmãos Toffoli, dona Iáiá Oliveira, dona Minervina dos Santos, sr. João Baptista Darin e sua filha Rosa entre outras pessoas.
Do outro lado da cidade, na Praça Maria Izabel, construída em madeira, pintada de azul, voltada para a rua Ceará, estava a Capelinha de São Bento.
http://www.camar.sp.gov.br/index2.php?pag=T0RnPU9EUT1PR1k9T0dFPU9UYz1PVEE9T0RnPU9HWT1PVGc9T1dZPU9XRT0=&categoria=10&galeria=140&arquivos=t
Do outro lado da cidade, na Praça Maria Isavel, construída em madeira, pintada de azul, voltada para a Rua Ceará, estava a Capelinha São Bento.
Havia uma rivalidade entre os moradores do Alto Cafezal - o lado esquerdo da linha do trem para quem vai em direção à Tupã e Marília, propriamente dita, que é a região do lado direito da linha. O marco separatório era a Avenida Sampaio Vidal. O povoado tinha duas capelas mas um só capelão, o padre José Maria da Graça Cristina, que oficiava nas duas regiões. Ele, mais preocupado com as coisas do espírito, certo dia ornamentou o altar da capela de Santo Antonio com toalhas bordadas vindas da capela de São Bento. O povo do Alto Cafezal não gostou nada e fez o padre devolvê-las, de imediato.
A capelinha de São Bento fora demolida e uma construção grandiosa iniciada já provocou polêmica pelo fato da frente da nova catedral estar voltada para as imensas terras do sr. Bento de Abreu Sampaio Vidal, dando suas costas para o Alto Cafezal. Na verdade, era o que fazia mais sentido, posto que a catedral foi construída em local elevado e nada mais obvio que ter sua frente voltada para a parte mais baixa.
Em 1930, nós fomos morar em uma casa maior, defronte à barbearia do sr. Zizi, Adorcino de Oliveira Lyrio. que ainda solteiro, declamava versos, causando admiração nos fregueses, com a descrição das belezas de Macaé, sua cidade natal, como também pela sua inteligência, cultura e fina educação.
Perto da nossa casa veio morar o médico dr. João Lopes, com sua numerosa família. O sr. Gaiotti e família Criscioni mudaram-se para outra rua, mas vieram outros vizinhos, como d. Margarida, mãe do sr. Americo Ravanelli e outros irmãos.
Marília sempre exerceu um fascínio especial nos moradores que fazia com que o povo gostasse da cidade pequena, descalça, empoeirada. Cidade escura, cheia de buracos e barrancos, sem iluminação elétrica - a luz das casas vinha de lampiões de querosene e carbureto. Sair à noite era uma aventura. As lanternas de pilha, como grandes vaga-lumes, iluminava os passos e apontavam os buracos das ruas.
Nas noites de lua cheia, muita gente aproveitava a claridade para adiantar as construções das casas. A percussão do martelo nos pregos, o som incessante do serrote rasgando a madeira recém-derrubada, o balde descendo no poço escuro, o sarilho rodando, o estalido da água atingida pelo balde, o barulho das coisas vivas, enfim, compunha uma estranha e alegre sinfonia, com suas notas dissonantes... a sinfonia das construções noturnas. A moçada aproveitava a claridade da lua para um bate-papo amigo, sentada nas soleiras das portas.
O sr. Zizi levava as moças ao Cine São Bento, iluminando o caminho com sua lanterna. Cidadão prestativo, bom de conversa, era participante ativo na vida comunitária, mais tarde tendo abraçado a doutrina espírita, tornou-se grande proselitista.
O Carnaval em Marília era uma bela festa.
Apesar da crise financeira de 1929-1930s, Marília se expandia, embelezando a Avenida Sampaio Vidal com prédios como o Hotel São Bento de Benedicto Faria, que permanece até nossos dias; o Banco São Paulo, na esquina da Rua Ceará, cujo primeiro gerente foi Agenor Gomes; no quarteirão da antiga Caixa Econômica Estadual havia a Sapataria de Joaquim Felizardo, demolida para construírem a Casa Bancária Almeida, que daria origem ao Bradesco.
Ainda na Avenida surgiu o sobrado de Miguel Pedro, ao lado do Banco Econoômico, que era alugado para a Casa Lotérica do sr. Freitas; a casa do Dr. Edmundo Freire, demolida nos anos 1990s; a Casa Bancária Martins Milhomens funcionava onde hoje existe a Friolar.
Ao lado das construções citadas, coexistiam casas de tábuas: onde hoje é o Unibanco, havia a Farmácia Santa Carolina de Venâncio de Souza Pinto, que era habitual encontro de políticos da época, possuindo um pé de primavera, que quando florido, embelezava a avenida. A esquina onde hoje existe o Bradesco havia o posto de gasolina de Justino Franco; em frente onde hoje está o Comind, havia a alfaiataria de Guido Traballi. No lugar onde construíram o Cine Marília em 1939, havia a Casa Tabajara de Luciano Nogueira.
Na esquina da Avenida com a Rua Tamandaré (Rua 9 de Julho a partir de 1934) residiu Dr. Durval de Menezes, o primeiro prefeito de Marília numa casa chamada carinhosamente de Villa Marinette, nome da primeira-dama. Na esquina da rua Ceará (atual agência do Banco América do Sul) funcionava o Hotel Avenida; do lado oposto, no meio do quarteirão, numa casa grande pertencente a Luiz Mana, funcionava a Fabrica de Gelo Cristal. Foi nessa casa que o Dr. Victor Gianvecchio, o primeiro dentista de Marília instalou seu gabinete.
Num inesquecível casarão de tábuas (atuais prédios Santa Luzia e Ouro Verde) funcionou o I Grupo Escolar de Marília. Foi nessa imensa casa, desprovida de luxo, que os filhos dos pioneiros aprenderam as primeiras letras e adquiriram valores e conhecimentos. Seguindo-se na direção leste havia a maquina de beneficiar arroz de Mazziotti e Quilles, onde depois se construiu o Gymnasium em 1940. A Avenida Sampaio Vidal terminava nesse ponto. Além, algumas chácaras e a solidão dos locais despovados.
No lado oeste da Avenida, além da Serraria Casadei (onde se ergueu o Correio nos anos 1950s), os trilhos da Cia.Paulista e bem distante, a máquina de café de José Fróio, onde depois se construiu a Fabrica de Cerveja Bavaria.
O Cine-Theatro São Bento, de propriedade de Luciano Nogueira, ficava na Rua Espirito Santo, atual Rua Armando Sales de Oliveira. Este, na verdade era o segundo cinema da cidade, já que o primeiro era do pai de Jupira Souto, na Rua Tamandaré (futura Rua 9 de Julho).
Em 1929, nós da família Pierucci, morávamos numa pequena casa do Major Antonio Nunes, na rua Tamandaré (Rua 9 de Julho a partir de 1934). Eram nossos vizinhos, de um lado, Zoroastro de Souza, mais conhecido pelo apelido de Zizi, casado com a Áurea. Do outro lado, João Zaninoto, sua mulher Isabel e 4 filhos. Zazinoto era fiscal da Prefeitura, andava sempre com uma luxuosa bengala e tinha muitas posses, entre as quais um carro Ford, dirigido pelo Zezinho 400, pois o automóvel fora emplacado com o numero 400.
Mais adiante, na Tamandaré, moravam as famílias Crisiconi e Gaiotti. Como se nota pelos sobrenomes, tirando Zoroastro de Souza, éramos todos descendentes de italianos.
De frente a nossa casa moravam a família Jordão e Herculano Salzedas, fornecedor da Cervejaria Antarctica. A casa de José Giometti era de alvenaria e ficava na esquina de nosso quarteirão, bem defronte a casa do Dr. Manhães, também de tijolos. Bem perto, estava sendo construído o Cine São Luiz em terreno adquirido por Eugênio Domingues, que morava onde atualmente (1990) é a Tapeçaria Chic.
Ainda na rua Tamandaré (Rua 9 de Julho), no local onde está a Casa Yamamoto (1990) havia a pequena Cadeia Pública, um açougue de Pedro Alpino, uma tipografia de Alcides Magalhães e sua mulher Clotilde, que o auxiliava nas impressões. Havia outro açougue, onde depois se estabeleceu o consultório do dr. Osvaldo Carvalho. No prédio residia um velhinho que passava o tempo todo sentado à porta. As moças da época o apelidaram de 'Meu Tempo' em razão de que, invariavelmente, ao ver qualquer moça bonita passar por ele, dizia: 'Ai, no meu tempo'...
Terrenos baldios e poucas outras casinhas de tábuas... assim era a Rua Tamandaré, que teria seu nome mudado em 1934. Na verdade, transferiram o nome Tamandaré ou Almirante Tamandaré para uma rua que 'saia' da Rua D. Pedro II.
Erguida no topo de um barranco, topo de um monte, a capelinha de pau-a-pique em louvor a Santo Antonio, ali fora localizada para poder divisar, em todas as direções o que viria a ser uma grande cidade. Para o sul, se via a Avenida Sampaio Vidal e a linha da Cia. Paulista. Para o norte se via o Cemitério e os grandes cafezais por todos os lados. Muito frequentada e querida dos devotos, sempre compareciam às Santas Missas, os irmãos Toffoli, dona Iáiá Oliveira, dona Minervina dos Santos, sr. João Baptista Darin e sua filha Rosa entre outras pessoas.
Do outro lado da cidade, na Praça Maria Izabel, construída em madeira, pintada de azul, voltada para a rua Ceará, estava a Capelinha de São Bento.
http://www.camar.sp.gov.br/index2.php?pag=T0RnPU9EUT1PR1k9T0dFPU9UYz1PVEE9T0RnPU9HWT1PVGc9T1dZPU9XRT0=&categoria=10&galeria=140&arquivos=t
Do outro lado da cidade, na Praça Maria Isavel, construída em madeira, pintada de azul, voltada para a Rua Ceará, estava a Capelinha São Bento.
Havia uma rivalidade entre os moradores do Alto Cafezal - o lado esquerdo da linha do trem para quem vai em direção à Tupã e Marília, propriamente dita, que é a região do lado direito da linha. O marco separatório era a Avenida Sampaio Vidal. O povoado tinha duas capelas mas um só capelão, o padre José Maria da Graça Cristina, que oficiava nas duas regiões. Ele, mais preocupado com as coisas do espírito, certo dia ornamentou o altar da capela de Santo Antonio com toalhas bordadas vindas da capela de São Bento. O povo do Alto Cafezal não gostou nada e fez o padre devolvê-las, de imediato.
A capelinha de São Bento fora demolida e uma construção grandiosa iniciada já provocou polêmica pelo fato da frente da nova catedral estar voltada para as imensas terras do sr. Bento de Abreu Sampaio Vidal, dando suas costas para o Alto Cafezal. Na verdade, era o que fazia mais sentido, posto que a catedral foi construída em local elevado e nada mais obvio que ter sua frente voltada para a parte mais baixa.
Em 1930, nós fomos morar em uma casa maior, defronte à barbearia do sr. Zizi, Adorcino de Oliveira Lyrio. que ainda solteiro, declamava versos, causando admiração nos fregueses, com a descrição das belezas de Macaé, sua cidade natal, como também pela sua inteligência, cultura e fina educação.
Perto da nossa casa veio morar o médico dr. João Lopes, com sua numerosa família. O sr. Gaiotti e família Criscioni mudaram-se para outra rua, mas vieram outros vizinhos, como d. Margarida, mãe do sr. Americo Ravanelli e outros irmãos.
Marília sempre exerceu um fascínio especial nos moradores que fazia com que o povo gostasse da cidade pequena, descalça, empoeirada. Cidade escura, cheia de buracos e barrancos, sem iluminação elétrica - a luz das casas vinha de lampiões de querosene e carbureto. Sair à noite era uma aventura. As lanternas de pilha, como grandes vaga-lumes, iluminava os passos e apontavam os buracos das ruas.
Nas noites de lua cheia, muita gente aproveitava a claridade para adiantar as construções das casas. A percussão do martelo nos pregos, o som incessante do serrote rasgando a madeira recém-derrubada, o balde descendo no poço escuro, o sarilho rodando, o estalido da água atingida pelo balde, o barulho das coisas vivas, enfim, compunha uma estranha e alegre sinfonia, com suas notas dissonantes... a sinfonia das construções noturnas. A moçada aproveitava a claridade da lua para um bate-papo amigo, sentada nas soleiras das portas.
O sr. Zizi levava as moças ao Cine São Bento, iluminando o caminho com sua lanterna. Cidadão prestativo, bom de conversa, era participante ativo na vida comunitária, mais tarde tendo abraçado a doutrina espírita, tornou-se grande proselitista.
O Carnaval em Marília era uma bela festa.
Não só de trabalho viviam os moradores da cidade, nos primeiros
tempos.
O carnaval, por exemplo, era uma bela festa. Como havia gente
que gostava de folia, muitos moradores eram oriundos do Rio de janeiro (estado
e cidade), a época não podia passar em branco.
O Prefeito também apreciava o carnaval e a Avenida Sampaio Vidal
se engalanava para os festejos. Lanternas coloridas iluminavam o povo cantando
e dançando. O Sr. José Giometti construiu um grande barco que abrigava muita
gente e comandava a festa. As serpentinas eram atiradas em tal quantidade, que
atapetavam o chão de terra.
Aqueles que tocavam algum instrumento partiam para a avenida e
participavam felizes da festa.
Tempos bons aqueles!
A pequena Marília, sem água, nem luz, mas quanta alegria proporcionava
aos seus moradores. Todos eram amigos, sem distinção de classe social.
As casas de madeira surgiam como cogumelos , ao lado de muitas
construções de alvenaria , entre os quais o sobrado do Dr. Sampaio até hoje
existente na R. D. Pedro, atrás da casa São Jorge, a bonita casa dos Mascaro,
na Rua São Luís, perto da Caiado Pneus.
Na Rua Prudente de Moraes, em frente a casa do Sr. Francisco
Matinelli, funcionava o “Clube Republicano”, num sobrado que existe até hoje ,
mais tarde alugado para a alfaiataria do Sr. Zanim.
No mesmo quarteirão, instalavam-se o jornal “Correio de
Marília”, que registrou os acontecimentos importantes da cidade, desde a sua
fundação, A Joalheria Ghedini e as Casas Pernambucanas, atraídas pelo progresso
e dinamismo do povoado.
O incipiente comércio, localizava-se nas ruas Prudente de
Moraes, São Luís, um pequeno trecho da Rua Tamandaré, abaixo da Av. .
Sampaio Vidal e Rua Cel. Galdino.
A Rua Ceará, do outro lado da avenida, possuía poucas casas
comerciais: a Sorveteria Carioca, a primeira de Marília (depois Supermercado
Pastorinho); a Casa Pinheiro, dos Irmãos Pinheiro; mais abaixo, perto da
Maçonaria, a leiteria Guarany do Sr. Delfino Rodrigues, que mais tarde
tornou-se , na Avenida, no quarteirão do Bradesco, que posteriormente passou a
se chamar
BRASSERIE, ponto de encontro dos homens de negócio da cidade; o
Hotel Esplanada, junto a loja da Mesbla, foi o segundo Hotel de tijolos da
cidade, passando, depois a denominação de Hotel Luso; a Casa Verde, a maior
casa de ferragens da época, abaixo da estrada de ferro, de propriedade do Sr.
Luiz Felipe de Mello (atualmente Supermercado São João).
Bento de Abreu já estava construindo a sacristia da igreja São
Bento. Quando pronta, era lá que o povo assistia as missas. Mais tarde, concluiu
outra parte, a igreja propriamente dita, em estilo colonial brasileiro, muito
bonita e que chama a atenção pelo seu bom gosto. Eram grandes colaboradores da
Igreja São Bento, Dona Chiquinha Sornas e Dona Marina Sampaio Góes.
O fundador, indiscutivelmente altruísta e desprendido, doou
muitas de suas terras para logradouros públicos ( o campo de futebol, a Santa
Casa, a Praça Maria Isabel, etc...).
Na Praça Maria Isabel situavam-se as residências dos Srs.
Azarias de Carvalho e Alfeu Pedrosa, bem como a Casa das Novidades, dos irmãos
Araújo.
Perto da igreja, na Rua Nelson Spielmann, a casa Paroquial, mais
tarde o sobrado do Sr. Teodoro de Carvalho, que depois deu lugar a benemérita
entidade Gota de Leite e mais algumas poucas casas.
A Rua São Luiz era cheia de barracos e casas de madeira. Seu
comércio era composto de alfaiatarias, lojas, quase todas de sírios e bares
barulhentos. , de onde provinha o som dos discos colocados nas vitrolas o dia
inteiro. Bem longe, a Casa Zanataro a Padaria Central e a Máquina do Sr.
Martins, que mais tarde, passou a firma Dib & Herrero. Onde
atualmente esta localizada a fabrica de tecidos Macul, havia um terreno baldio
no qual um senhor italiano criava cabras para vender e cabritos no tempo
das festas de Natal, Páscoa , etc... No terreno construiu um
ranchinho, onde morava sozinho e foi encontrado morto. Neste local terminava a
Rua São Luiz.
Na Rua Coronel Galdino poucas casas : o armazém do
pioneiro Guinetti Grassi, a venda dos Reinoso, a padaria Expressa , a mesma de
nossos dias , o Armazém do Sr. José Maria Souto , que construiu o primeiro
sobrado da rua, na esquina da Av. Santo Antônio, até hoje existente.
Conviviam na pequena cidade pessoas que trabalhavam com
determinação em busca de riquezas, mulheres bonitas e tipos populares, cujo
comportamento excêntrico chamava a atenção.
Dona Augusta, esposa do Sr. Joaquim Novaes Banitz, senhora de
rara beleza, comparecia ao “Clube Republicano”, exibindo um leque de plumas de
pavão , luxo demasiado para a cidade .Outras mulheres que se
destacavam na sociedade de então : D. Sebastiana de Almeida. Dona Cecy
Nogueira, D. Dalila Barros, D. Dirna Montolar, D. Brasilina Borges, D. Olga
Araújo, D. Odila Barreto.
Figuras interessantes e populares eram o Pretinho Salomé e o “
Boi “, ignorado pelo nome verdadeiro , porém de todos conhecido pelo apelido.
Salomé ganha um funil na boca e assim anunciava os jornais que
vendia. Mudou-se logo para a cidade de Araras, mas deixou saudades.
“Boi” era adorado por todos. Gordo, bonachão, de uma calma
extraordinária, era uma espécie de faxineiro da cidade. Lavava a nossa casa. No
carnaval sentava numa cadeira bem alta, em cima de um caminhão e
desfilava com uma coroa reluzente na cabeça. Era o Rei Momo de Marília, título
que ostentava com grande orgulho.
Muitas vezes, fazendo faxina em nossa casa, encostava balde e
sabão e começava a sambar. Perguntávamos se estava com saudades do Carnaval e
ele respondia:
- “Eu sou o Reis”.
Meu pai, então, chamava-lhe atenção: “Candinha, vai é ficar
brava, você está demorando a fazer o serviço.”
Ao que ele respondia, na sua linguagem peculiar:
-Não fica não, Inhá Candinha é tão doce!
Doce para ele era sinônimo de bondade. Quando queria dizer que
um homem era bom, dizia também “fulano” e “fidalgo”.
Mais velho, foi recolhido ao “Lar São Vicente”. Tinha,
contudo, permissão para dar uma volta pela cidade, diariamente.
Um dia, passeou pela última vez, dando seu adeus à terra que
tanto amava. “Boi” voltou ao lar e faleceu. O povo prestou-lhe as homenagens
devidas.
Dona Anunciata Gramgi, esposa do popular Nicola Gramgi, mãe de
Maria, Madalena e Ida, casada com o Sr. José Arnaldo, boníssima criatura, com
sua humildade, seus braços fortes e mãos rudes, estava sempre pronta a socorrer
aos que dela necessitavam.
Dona Henrique Casula, e Dona Olívia Almeida, venerandas
senhoras, que se notabilizaram pela caridade e assistência prestada aos
carentes.
Dona Henrique, por sinal, foi a primeira moradora de uma
casa bonita na Av. Rio Branco, então um arrabalde, pois era o caminho das
fazendas. A casa na esquina da R. 24 de dezembro, mantém igualmente conservadas
suas características originais. Pode ser considerada, sem favor algum, a
pioneira das casas bonitas da cidade.
Dona Minervina dos Santos, batalhadora incansável, morava na Rua
Prudente de Moraes, ao lado do prédio das casas Pernambucanas de nossos
dias, na época, o bar do Sr. Abmussem, em frente a farmácia dos irmãos Álvaro e
Alberto Pinto. Casa aconchegante, muito frequentada pelas jovens de então entre
elas a bonita a bonita Maria Marta Martinez, mais tarde, Sra. Dr.
Coriolano de Carvalho e Isabel, filha do pioneiro Sr. José Amador, menina
sempre pronta a ajudar as amigas.
Em 22 de maio de 1930, era inaugurado o bonito e grande Cine São
Luiz. O edifício, cuja construção se deve ao arrojo e sacrifício do Sr. José
Giometti, não sofreu qualquer alteração importante ao longo do tempo e
abrigou a Casa BRASIMAC.
No mês de outubro de 1930 sobreveio a Revolução que colocou no
poder Getúlio Vargas. Era o início de uma nova era política no
Brasil e o fim do Partido republicano, o P.R.F., símbolo da república velha.
Os da oposição, agora vitoriosos invadiram o “Clube
Republicano”, jogaram móveis e utensílios pela janela, atearam fogo e a
fogueira queimou tudo. O povo aplaudia e ajudava.
Os vencedores, lenços vermelhos no pescoço, saíam as ruas para
ouvir Dr. Paulino Vieira Botelho, orador eloquente , marido de D.
Berta , admirada na cidade pela sua inteligência, dignidade e distinção . Nessa
ocasião, o dentista Marcilio, numa discussão de caráter político, assassinou o
Sr. Profeta que leva seu nome e perpetua sua memória.
Começava, assim esta nova fase da história brasileira. Em
dezembro, dias antes do Natal, a população foi beneficiada com a instalação da
luz elétrica a cargo da Companhia Paulista de Força e Luz.
1930 terminou.
Marília, então passou a ser administrada por interventores
nomeados. Os primeiros, Tenente Hely Câmara e Capitão José Silva,
tornaram-se amigos de todos.
Fixamos residência na R. São Luiz, esquina da Rua Tamandaré
onde funcionou, durante anos, a Prefeitura. Era uma casa de tábuas
pertencente ao Sr. João Batista Darin.
Os parques de diversões eram instalados no terreno onde foi
construído o Líder Hotel.. Nas proximidades morava o Sr. Miguel Mendonça,
responsável pela abertura do patrimônio da Vila de São Miguel. Encontravam-se
nas imediações a Farmácia do Sr. Benedito Lima e Costa, senhor que inspirava
grande respeito, casado com a meiga, D. Clotilde, o prédio do Sr. Fittipaldi,
alugado para muitas casas comerciais, a Casa de móveis Aurora, do Sr. Aldo
Rotelli, a tinturaria do Sr. Otávio Belloti e as casas dos Srs. Gramellini e
Bonatto. Pertinho de nossa casa, estava instalada a farmácia São Luís do Sr.
Luiz Monteiro, pai da pintora Haydée Monteiro.
Funcionava, então, um pequeno ginásio, não oficializado. Os
alunos que o frequentavam necessitavam prestar os exames em Agudos. A situação,
porém logo se normalizou, graças ao empenho das autoridades. Era o saudoso
Olavo Bilac, o pioneiro dos ginásios de Marília.
Eclode a Revolução de 1932. A Revolução Constitucionalista.
Foi um tempo conturbado na cidade, todos querendo se
alistar. A farmácia do Sr. Marcondes, onde atualmente funciona uma casa de
discos, defronte ao Supermercado Pastorinho, possuía uma preciosidade, o
primeiro rádio da cidade.
Era o local de reunião, todos interessados em saber as notícias
da frente de luta. Não se podia passar, tal a multidão reunida. Já
próximo ao fim da revolução, teve início a doação de ouro para auxiliar o esforço
de guerra de São Paulo. Em troca do ouro, o doador recebia uma aliança de ferro
com os dizeres “Dei ouro para São Paulo”.
Meu pai conservou sua aliança no dedo, durante muitos anos, com
muito orgulho. Alguns da cidade deram suas vidas pela causa: Nelson Spielmann,
Vicente Ferreira e Saturnino de Brito.
Rua 9 de Julho
Felizmente, depois de três meses de luta, tudo acabou. Então, as
ruas Ceará e Tamandaré, muito citadas anteriormente, passaram a constituir uma
via única, em memória a data, recebendo o nome de rua 9 de Julho.
Logo apareceu na cidade, o Dr. Otávio Pinto, esposo
da grande pianista Guiomar Novaes. Simpatizou-se com a cidade e acreditou no
futuro, adquiriu muitos terrenos. Foi o pioneiro dos sobrados comerciais,
todos construídos sob a supervisão do arquiteto Dr. Alexandre Caniato,
inclusive o Líder Hotel.
Assistimos de nossa casa, a construção lenta, tijolo por tijolo,
do Líder Hotel. As fisionomias dos pioneiros mostravam alegria com os
empreendimentos imobiliários, as calçadas e sarjetas colocadas nas ruas.
O Líder Hotel, depois de inaugurado, hospedou políticos
ilustres, entre eles o governador do Estado de São Paulo Dr. Armando Sales de
Oliveira.
Em 27 de junho de 1933, era instalada a Comarca de Marília com a
presença do primeiro Juiz Dr. Fernando Cavalcanti.
A cidade passou a receber, cada vez mais, novos moradores. O Sr.
Ernesto Basta, montou uma fábrica de refrigerantes, uma das primeiras indústrias
da Vila São Miguel, embrião da cervejaria, muitos anos mais tarde, transferida
ao controle da Companhia Antártica.
O Sr. João Zaninoto, fundou a torrefação do Café
América. Trabalhou com ardor para vencer. Joãozinho, o mais velho dos filhos,
num dia fatídico, foi comprar frutas numa quitanda, onde na atualidade ergue-se
um prédio alto perto da igreja Santo Antônio, houve uma briga entre sois homens
na quitanda, disparo de tiros e o menino, atingido por uma bala sem rumo, caiu
sem vida. O fato emocionou a cidade. A vítima, não somente pela morte trágica,
era muito estimada, tinha uma forte inclinação musical e já tocava violino com
desembaraço.
O Sr. Zaninoto resistiu ao golpe, tocou a torrefação para frente
e acabou vendendo. Por infeliz coincidência, os proprietários das duas
primeiras torrefações de café da cidade foram marcados pela mesma
tragédia.
Em 1934, visitou Marília, a Companhia de Teatro Lizon Caster que
dava espetáculos, todas as noites, no Cine São Luiz, sempre lotado. Na primeira
fila, assistindo todas as apresentações, O Sr. Siqueira Reis, coletor
Federal, seu ajudante, o Sr. Clementino de Paula e o jovem Agostinho Mana.
A cidade começou a receber um contingente de profissionais
liberais, médicos recém-formados como os Doutores Gabriel Seixas, Pérsio de
Carvalho, Fernando Mauro, que se tornou político e exerceu mandato na
Assembleia Legislativa, ou advogados como o Dr. Aniz Badra , que também
se elegeu Deputado Federal , em várias legislaturas.
Em 1936 a cidade já possuía a Casa de Saúde São Luiz, fundada
pelos Drs. Rodrigo Argolo e Mário Lima, hoje Hospital Marília , funcionando no
mesmo local onde foi instalado originariamente.
A Igreja de Santo Antônio passou a ser matriz.
A Rádio Clube de Marília do Sr. Oscar de Moraes Barros , no
início da fase áurea do rádio, trouxe mais alegria a cidade .Pelos seus
microfones, desfilaram Sérgio Paiva, Milton Camargo, Omar Cardoso, e muitos
outros que fizeram sucesso em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Pela ação do Sr. Francisco Ardito, a Associação Atlética São
Bento, montou um forte quadro de futebol, enfrentando de igual para
igual, esquadrões famosos do Rio e São Paulo, entre os quais o Fluminense
Futebol Clube, base da Seleção Brasileira que disputou a Copa do
Mundo na França em 1938.
Tempos bons aqueles dos garotos felizes que ansiavam por uma
munhequeira de couro, símbolo da força dos mocinhos valentes do cinema
americano, que perdiam a noção do tempo, nas disputas das “peladas”, com as
bolas de capotão , que se sentiam realizados ao fazer parte das fanfarras das
escolas . E por falar em fanfarras, quem não se lembra do Professor de Educação
Física , o Cabo Remo, isto é o famoso Remo Castelli , que comandava a
fanfarra do Colégio Sagrado Coração de Jesus ?
Fatos tristes também se passaram na cidade ordeira.
Certo dia apareceu na Selaria de meu pai, o Dr. Paulino Botelho,
a procura de um chicote. Para surpresa e espanto de todos, soube-se que
pretendia bater no Juiz, Dr. Fernando. Não sei o desfecho do episódio e a causa
da desavença entre eles.
No Carnaval de 1938, sem qualquer motivo aparente, Giácomo
Maraschini tirou a vida do Dr. Pretti.
Uma nova riqueza despontava nas terras marilienses,
O algodão
Na sua esteira, um novo tipo de agricultor, de feições exóticas.
Vindos de uma terra distante, de hábitos diferentes e falando uma língua sem
qualquer semelhança com a nossa, os japoneses contribuíram com novas técnicas e
com muito trabalho para o desenvolvimento da terra. A princípio ficaram
afastados, talvez pela dificuldade de comunicação. Mais tarde, já abandonando
os campos, radicaram-se na cidade, dedicaram a atividade comercial e industrial
e venceram.
Marília, provavelmente, foi a cidade que recebeu o maior número
de imigrantes japoneses. Alguns filhos destes imigrantes destacam-se nos dias
atuais, graças a dedicação ao estudo em vários setores da vida econômica e
intelectual da cidade. O nome de Marília ficou conhecido nacionalmente graças a
performance do Tetsuo Okamoto nas olimpíadas de 1952, quando
conquistou medalha de bronze em prova de natação.
Marília tornou-se no final da década de 30 e início da década de
40 um extraordinário produtor de algodão do país. Surgiram então na cidade as
máquinas de benefício, gerando empregos em grande número.
Como não poderia deixar de ser, o grande pioneiro da
industrialização brasileira, Francisco Matarazzo, também foi o
responsável pela instalação na cidade de um complexo industrial , investimento
que trouxe um grande retorno em termos sociais , empregando um grande
contingente de mão de obra.
A chaminé colossal vista por quem passa pela avenida Castro
Alves, na Vila São Miguel, constituiu-se um marco histórico e relembra a
riqueza que o algodão trouxe ao município.
Filas de caminhões congestionavam as ruas da cidade, carregados
com o produto das lavouras. Pela ferrovia, fardos e mais fardos de algodão
beneficiado eram transportados com destino aos centros
consumidores.
A cultura do algodão, seguiu-se a criação do bicho-da-seda, um
período breve, suficiente porém para a construção de um sem números de
barracões destinados a fiação
Foi despertada nesta época, a vocação industrial da cidade,
aproveitando a matéria prima produzida na própria região. Com o
crescimento urbano, torna-se difícil, doravante fazer referencias a
fatos isolados. Problemas de infraestrutura foram atacados ao longo das
administrações municipais, caso específico do abastecimento de água. Sem
um manancial próximo na gestão do Prefeito Miguel Argolo Ferrão ampliou-se a
captação de águas pluviais, através do reservatório Cascata. A solução
definitiva seria a construção da adutora do Rio do Peixe, obra iniciada na
gestão do Dr. Armando Biava. Graças as providencias adotadas em tempo hábil , a
cidade, não obstante sua expansão vertiginosa , sempre contou com um serviço eficiente
, na área de tratamento e fornecimento de água.
Hoje, Marília não é apenas um centro Comercial e
Industrial desenvolvido . Na região , até os limites dos rios
Paraná e Paranapanema , é o grande centro médico, dotado de especialistas
renomados em todas as áreas da medicina e de hospitais com modernos e
sofisticado aparelhos.
Com relação aos hospitais, é interessante citar o Hospital
Espírita de Marília, destinado ao tratamento de doenças psíquicas. Idealizado
pelo Sr. Alfeu Pedrosa, na sua construção colaborou com recursos e trabalho de
toda a comunidade. Recebeu ainda verba do Estado para sua Edificação e foi
inaugurado pelo Governador Dr. Adhemar de Barros. Foi qualificado de
Hospital-Padrão, no gênero, pelo Governador Laudo Natel.
Marília tornou-se finalmente, um grande polo de atração devido
as suas escolas, dentre as quais se destaca a Faculdade de Medicina.
Das normalistas vestidas de azul e branco, de ontem, a cidade se
descontraiu e abriga em nossos dias uma ativa mocidade estudantil em suas
faculdades.
Nestes cinquenta e poucos anos de existência, Marília teve
várias pessoas de escol, em todos os campos de atividade.
Citemos apenas algumas:
Nas letras, João Mesquita Valença, poeta ilustre, vivia entre os
livros, trabalhando na Biblioteca Municipal.
Osório Alves de Castro, na sua modesta Alfaiataria Rex, nas
horas vagas escreveu o livro “Porto Calendário”, uma obra-prima da literatura
regional brasileira. Em uma carta citada no livro Sagarana de Guimarães Rosa
diz “ele escreve com uma verdade de realidade e de arte com um
fervor novo, uma tremenda e poderosa pulsação de vida. Este homem, Osório Alves
Castro, eu quero ver, ouvir, abraçar e conhecer, para admirar mais...” Outra
carta também emotiva, do escritor Paulo Dantas, reconhece a riqueza da
Literatura de Osório que recebeu o Prêmio jabuti de Literatura.
Na área da filantropia, o benemérito Eurípedes Soares da Rocha
que, sozinho, construiu o abrigo dos velhos “Mansão Ismael” e o Sr. Luiz
Laraia, fundador da Filantrópica o “Lar dos Meninos”.
Nos esportes, além de Tetsuo Okamoto , Dilermano da Silva Lima,
um campeão das corridas de rua, as provas de pedestrianismo, como eram
conhecidas não faz muito tempo.
Assim conheci Marília, a antiga cidade - menina.
Nesta oportunidade, rendo homenagens aos pioneiros e aos que
vieram depois, construindo todos a Marília pujante de nossos dias, a Marília de
todos nós.
Casa Mesquita
1a. fabrica de gelo - 1930 na Rua 4 de Abril.
7 May 2006.
Maravilhosa reportagem... da minha querida cidade natal.
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