Monday, June 18, 2012

Jonas Garrett, Doalcey & Wolner Camargo

Marília-SP, não se sabe exatamente o porque, foi um grande polo exportador de talentos para o Radio brasileiro nos anos 40 e 50. Aqui estão algumas das personalidades que começaram ou passaram por Marília na época de ouro da Radiofonia nacional.

speaker Jonas Garrett.

JONAS GARRETT foi até 'garimpeiro'

Com 16 anos de idade, Jonas Garrett venceu em Jaboticabal, sua terra natal, um concurso de 'speakers' promovido pela PRG-4. Entretanto não foi desta vez que entrou para o radio. Seus pais se opuzeram a isso alegando que o 'menino precisava estudar'.

Jonas deu tempo ao tempo e mais tarde ingressou na própria PRG-4 até receber um convite para o cargo de locutor-chefe da PRI-2Radio Clube de Marilia. Trabalhou durante algum tempo e resolveu mudar de ares, seguindo para Rio Preto para atuar na Radio Rio Preto, que tem prefixo de PRB-8.

O 'broadcasting' da grande cidade paulista muito lucrou com concurso de Jonas Garrett. Em face do seu sucesso a PRI-8, da cidade de Araçatuba ofereceu-lhe uma proposta absolutamente vantajosa. Jonas não vacilou: apanhou um trem e, com malas e tudo, transportou-se para essa emissôra.

Foi pequeno, porém, o seu período de atividades ao microfone da I-8. Um dia deliberou transpor os limites do seu Estado para em terras mineiras fazer parte, em Uberaba, como 'speaker'-chefe, da PRE-5Radio Sociedade Triângulo Mineiro. Ainda hoje refere-se à Uberaba com as mais carinhosas e simpáticas palavras e diz mesmo que sente muitas saudades da boa e moderna cidade onde tem um largo círculo de amigos.

Abandonou Uberaba para assinar contrato com a Radio Difusora de São Paulo. Não satisfeito com a potente pêerre bandeirante procurou um descanso, uma vida mais agradável, livre do borborinho incessante das cidades grandes. Foi para Araguari, reforçando o 'cast' da PRJ-3.

Mas não demorou a sentir falta do dinamismo de uma capital. Como resolver o problema? Voltar para São Paulo? Não! E meteu a cara em Belo Horizonte para logo ser cortejado pela PRH-6Radio Guarani.

Pela primeira vez nutriu desejo de ser 'speaker' no Rio de Janeiro. Comprou passagem e embarcou no noturno mineiro saltando alí na Central do Brasil. Dois dias depois era locutor da antiga Radio Transmissora, onde comandou um programa romântico que constituiu um motivo de satisfação para o belo sexo.

Um certo dia, Luiz Ayala deixou a Mayrink Veiga e pum! Jonas Garrett passou a pertencer a familia de Edmar Machado. Hoje é um dos bons elementos da estação de Cesar Ladeira.

Desculpem, mas eu esqueci de dizer que Garrett antes de viajar para Araguari, embrenhou-se pelo interior do Brasil virando garimpeiro em busca de ouro! Que idéia essa de Jonas! Mas ele afirma que a vida assim é melhor! E é mesmo!

Revista CARIOCA de 2 Fevereiro 1946.

reportagem da revista Carioca com o 'speaker' Jonas Garrett, 'band-leader' Severino Araújo e o 'crooner' Ray Joseph.

Mais informações sobre JONAS GARRETT

João Anastácio Garreta Prates nasceu em 11 Maio 1921 em Jaboticabal-SP.  Ator e apresentador de programas sobretudo musicais. Foi demitido em 1964 logo após o golpe militar sob acusação de pertencer ao PCB - Partido Comunista Brasileiro.

DOALCEY  CAMARGO  &  WOLNER CAMARGO 


Sergio Paiva e Wolner Camargo ao microphone da Radio Club de Marília nos anos 1940.
jovem Doalcey Camargo em seus tempos de Marília.

Doalcey comandando a equipe esportiva da Radio Tupi do Rio de Janeiro; durante as transmissões da Copa do Mundo de 1970 pela Radio Tupi do Rio de Janeiro.

Trechos da entrevista de Doalcey Bueno de Camargo concedida a  André York do projeto "Narrar futebol é uma arte', de 2009.

Doalcey Bueno de Camargo nasceu em 18 Março 1930 na cidade de Itapólis-SP. Dodô como era chamado carinhosamente pelos amigos, faleceu em 29 Agosto 2009.

Você se considera um dos precursores da narração esportiva? 

Doalcey: “Eu tenho 63 anos de rádio. Eu me considero um dos veteranos do rádio, não digo a você que seja um grande expoente, mas eu trabalhei com muita gente importante. Eu trabalhei com Oduvaldo Cozzi, Waldir Amaral, Jorge Curi, Luiz Mendes, Osvaldo Luiz, Carlos Frias, Paulo Gracindo, Manoel Barcelos, Antônio Cordeiro.  Trabalhei com a nata do esporte brasileiro da Radio Tupi”.

Qual foi sua primeira Radio?

“Eu vim do interior de São Paulo para a Rádio Tupi do Rio de Janeiro.  Quem me trouxe foi meu irmão Wolner Camargo, radialista que trabalhou na equipe do Ary Barroso em 1947.  Eu cheguei a conviver com o Ary Barroso, mas não trabalhei na equipe com ele, pois nessa época eu trabalhava anunciando os programas “.

Como surgiu a narração esportiva?

“Eu  vim da cidade de Marília-SP, onde eu narrava futebol. A Rádio Clube de Marília revelou vários nomes. Eu me transferi para a Rádio Globo no final dos anos 40, na equipe dirigida pelo Luiz Mendes”. 

São seis décadas no radio esportivo. Qual o futuro do radio?

“O futuro do Rádio é continuar a missão de integrar o país, divulgar o país, aplaudir as coisas bem feitas no nosso país, prestigiando os ouvintes.  O ouvinte é a nossa grande meta, porque quando nós atingimos em cheio o ouvinte, é porque nosso trabalho está sendo correspondido, e a nossa expectativa está sendo realizada, porque o ouvinte é tudo em nossa profissão”.

Entrevista com André York e Marcelo Ortiz: http://www.youtube.com/entrevistadedoalcei


Wolner Camargo nasceu a 25 Dezembro 1923. Iniciou a sua carreira na Radio Clube de Marilia em 1946. Mudou-se para o Rio de Janeiro-DF, tornando-se chefe do departamento esportivo da Radio Globo. Foi narrador esportivo na Rádio Tupi carioca também, onde trabalhava Doalcey Camargo, seu irmão mais famoso.

O saudoso radio-ator e dublador Ronaldo Baptista relata em 'Na Pele do Lobo', seu livro inédito, como foram aqueles anos da 2ª metade da década de 1950 e como Wolner Camargo, seu grande amigo, veio do Rio de Janeiro até chegar ao estúdio Gravasom.

A Rádio Bandeirantes acabara de arrendar os velhos estúdios da Rádio Emissora de Piratininga, na Praça do Patriarca, de onde tinha se mudado para a Rua 24 de Maio a procurava de novos caminhos. Edson Leite, diretor da Bandeirantes, iria implantar ali um estúdio especializado em rádio-novelas para concorrer com a poderosa Rádio São Paulo; aproveitando assim toda a nata do departamento de radio-teatro da Piratininga, que ficara orfão.  

Edson Leite contratou Augusto Baroni, diretor de rádio-teatro da Radio São Paulo. Junto dele veio sua mulher, a veterana Leonor Navarro,  além da filha novelista Nara Navarro e seu marido Benito di Nardo, sonoplasta.  Neuza Maria, Odair Baptista, jovem locutor mineiro e outros, migraram para a nova emissora, juntando-se aos novos contratados que vieram do Rio de Janeiro, como Wolner Camargo, Ênio Santos, Sonia de Moraes além do “cast” fixo da própria Bandeirantes. Uma verdadeira 'legião estrangeira' que teria que se entrosar e dar conta do recado. 

O fato é que a Radio Piratininga não tinha o carisma ou a 'audiência viciada' da Rádio São Paulo, ou a tradição naquela área, é que depois de algum tempo a coisa começou a dar p'ra trás. E a Bandeirantes encerrou o projeto, deixando a Radio São Paulo solitária no primeiro lugar em radio-teatro.

O elenco foi rapidamente dissolvido e cada um acabou voltando para o que fazia antes. Aquele sonho, infelizmente, havia acabado tão depressa como começara.

Nós voltamos para a Radio Bandeirantes. Alguns voltaram para o Rio de Janeiro. E outros, como Wolner Camargo e Neuza Maria, passaram a se dedicar às dublagens de filmes e seriados.

Atendendo a seu pedido, levei o Wolner  Camargo para a Gravasom, onde continuou mostrando o seu talento e se tornando um dos seus diretores de dublagem, um pouco mais tarde.

De lá, acabou galgando através de sua inteligência e personalidade postos muito mais altos. Wolner Camargo era uma pessoa envolvente e séria, casado com a radioatriz e depois também dubladora Neuza Maria."

trecho do livro 'Na Pele do Lobo' de Ronaldo Baptista

texto original de site sobre o estudio de dublagens ARTE INDUSTRIAL CINEMATOGRÁFICA - São Paulo - 1962 a 1976: AIC

http://universoaicsp.blogspot.com.br/2012/02/dublador-em-foco-102-wolner-camargo.html


A dublagem ainda dava seus primeiros passos com o pioneirismo do estúdio Gravasom. Glauco Laurelli era o Diretor Artístico enquanto que Wolner Camargo além de algumas dublagens já era diretor de dublagem devido a sua experiência com a rádio-novela.

Em meados de 1962, Glauco Laurelli, após dar o pontapé inicial na dublagem brasileira, prefere se dedicar à produção de filmes. No mesmo período, a Gravasom, através de um contrato com a Columbia Pictures, renova todo o seu equípamento na área da dublagem. Wolner Camargo passa a ser o Diretor Artístico do novo estúdio, que altera seu nome para AIC. Segundo alguns dubladores, o nome "Arte Industrial Cinematográfica São Paulo" foi sugestão do próprio Wolner Camargo. A idéia era fazer uma dublagem artística em rítimo industrial.

A filosofia era meio ousada para a época, mas foi exatamente que Wolner Camargo conseguiu implantar, alterando o método da dublagem, o qual foi copiado por outros estúdios que surgiram. Basicamente, o método de dublagem por "anéis" ou "loops" é mantido até hoje, mesmo sendo apenas um dublador na bancada. Também houve a necessidade de ampliar o quadro de dubladores e convida diversos radioatores para integrarem o elenco da AIC.

Com uma voz perfeita, nítida, e excelentes interpretações nas dublagens, Wolner Camargo esteve presente dublando e também dirigindo. Aqui uma pequena relação de algumas dublagens que conseguimos encontrar.

**Rod Taylor (Glenn Evans) na série Hong Kong, talvez a 1ª dublada pela AIC.
**Capitão Steve Zodiac na série de animação inglesa Fireball XL-5.
**Eddi Albert (Oliver Wendell) na série O Fazendeiro do Asfalto.
**Jim Redigo na série Império do Oeste.
**Participações no desenho Os Jetsons.
**Inúmeros personagens na série Cidade Nua, a qual também dirigiu.

**Dublagens em filmes, muitos infelizmente redublados. Destacamos a  dublagem do ator James Withmore no filme "Melodia Imortal" ao lado de Ronaldo Baptista.

**Voz do gravador na 1ª temporada da série Missão Impossível.
**Diversas participações dublando convidados nas séries: Viagem ao Fundo do Mar (1ª e 2ª temporadas), A Feiticeira, Perdidos no Espaço e O Túnel do Tempo (série que também dirigiu cerca de 50%)


Segundo nosso banco de dados, é no ano de 1967 que Wolner Camargo se retira da AIC por não concordar com os rumos que a empresa estava seguindo. Assim, sua esposa Neuza Maria também se retira do estúdio. Os dubladores Maria Cristina Camargo e Emerson Camargo, filhos de seu 1º casamento, também deixam a AIC.

Wolner Camargo vai para o Rio de Janeiro e lá, não temos certeza de que tenha realizado algum trabalho em dublagem, mas sim ligado a alguma distribuidora de filmes no Brasil.
Em 1972, retorna para São Paulo para dublar novamente pela AIC o personagem Cannon, personagem de grande sucesso no início da tv a cores no Brasil. Após a 1ª temporada, a série passa a ser dublada pelo estúdio Cinecastro, já com a sua filial em São Paulo.

Após a dublagem de Cannon, Wolner Camargo não retornou mais às bancadas de dublagem, segundo informações que obtivemos foi um dos representantes da distribuidora Viacom no Brasil.

Irmão do locutor esportivo Doalcey Bueno de Camargo (falecido em 2009), Wolner Camargo faleceu em 1997, aos 73 anos, deixando um grande legado para a dublagem brasileira.

Raul Brunini empunhando um microfone durante visita de Fidel Castro ao Rio de Janeiro-DF. 

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