Wednesday, December 26, 2012

Ases da Radio Club de Marília

Foto esquerda: Walter Mandruzatto e Dalvo Bambini frente à uma república de marilienses em São Paulo; Foto da direita: Milton Camargo, Anésio Toniolo e Paulo Ogawa. (fotos acervo Dalmácio Jordão).

HILDEBRANDO BONAMINI, radialista marilense 

radialista mariliense Hildebrando Bonamini ao microfone de uma radio não identificada. (acervo Roberto Bonamini).
Hildebrando Bonamini em três fotos diferentes; na de baixo com a Orquestra de Feis Feres.

Amelia Bertonha diz a Roberto Bonamini:  Conhecí seu pai Hildebrando Bomanimi, pois meu irmão, Sérgio Paiva, era loucutor da Radio Clube e eu ia lá ás vezes. Eu também o ví cantar no Marilia Tennis Clube. Certa vez houve um baile no Tennis, quando era lá na Rua 4 de Abril e me lembro que um moço cantou e dançou maravilhosamente a "Trabalha nego", música de Ary Barroso. Ele dançou pelo meio do salão como se fosse um escravo e eu fiquei encantada, assim como todos que assistiam envolta da pista. Será que era o Hildebrando? 30 Dezembro 2012.

Roberto Bonamini: Amélia, bom dia! Meu pai era um excelente intérprete de músicas em espanhol e um verdadeiro pé-de-valsa. Nasci em Marília e minha família fixou residência na capital quando eu tinha 1 ano. Do período que meu pai residia em Marília posso comentar que ele e seu irmão tinham uma oficina mecânica especializada nas marcas Austin e Morris. 30 Dez 2012. 

foto de Orlando Silva dedicada a Hildebrando Bonamini em Fev. 1943; cantora não identificada; Octavio Lignelli  & Orlando Silva - autografada por Lignelli em 22 Julho 1942 (acervo Roberto Bonamini).

mais fotos do album de Hildebrando Bonamini; Trigêmeos Vocalistas à direita.
fotos reveladas ao contrário do album de Hildebrando Bonamini; Cine São José (de Garça-SP) - ainda quando era de tábuas, apresenta o filme 'O filho dos deuses' (Brigham Young) de 1940 - a história dos mórmons depois do assassinato de seu líder Joseph Smith e o êxodo em direção à Salt Lake City; foto 2: galã não-identificado; foto 3: trio não-identificado;  foto 4: varanda da antiga sede da Radio Club de Marília na Avenida Rio Branco; foto 5: Cine Eldorado ou seria Restaurante Eldorado?; foto 6:  radialista mariliense Marcos de Souza.
'Brigham Young' (O filho dos deuses) com Tyrone Power e Linda Darnell, de 1940, passava no cinema de tábuas de Garça, circa 1941.
Hildebrando Bonamini aparece ao lado do famoso band-leader Xavier Cougat.
Raul Brunini, locutor da Radio Club de Marília que fez carreira no Rio de Janeiro-DF tornando-se vereador  da UDN pelo Distrito Federal. 

Octavio José & Marlene Leal at PRI-2, in 1960

Wednesday, December 19, 2012

DALMÁCIO JORDÃO, o Reporter Esso

Officina de Rosario Jordão (pai de Dalmácio) nos anos 1930 em Marília-SP.

Dalmácio Jordão, que mora no Guarujá-SP, concedeu entrevista ao jornal 'Correio Marilense' por e-mail em 25 Março 2012. Ele falou sobre a vida pessoal e como atuou como radia­lista, até se aposentar como o Repórter Esso, na Radio Tupi de São Paulo.

Dalmácio Jordão chegou em Marília em 1933, com três anos de idade

Dalmácio Jordão nasceu em São José do Rio Preto-SP em 5 Maio 1930, de madrugada. Em 1933, a família Jordão mudou-se para Marília.

Rosário Jordão, natural de Piracicaba-SP e a mãe Maria Cabrera, natural de Cravinhos-SP tiveram 11 filhos: Dalmácio (1930) e Coriolano (1932) nasceram em São José. Os outros 9 nasceram em Marília: Bruno (1934, já falecido); Andréa (1936); Marília (1939); Rosário (1941); Ismênia (1944); Ordálio (1946); Norma (1949); Bracindom (1951) e Wellington (1954).

Sobre o nome de Bracindom há uma curiosidade: 'Meu pai supunha que este seria o último dos filhos e inventou: B de Bruno, R de Rosário, A de Andréa, C de Coriolano, I de Ismênia, N de Norma, D de Dalmácio, O de Ordálio e M de Marília. Mas em 1954 veio o Wellington.'

Em Marília, Rosário instalou sua oficina de relojoaria e ourives e co­meçou a trabalhar. Mais tarde, agre­gou à oficina os serviços de conserto e aluguel de bicicletas. Com a idade avançando, vista cansada de tanto consertar relógios, fechou a oficina e comprou dois ônibus que faziam a li­nha Marília-Vila Queiroz. Foi, tam­bém, durante muitos anos, motorista de taxi. Nossa mãe, sempre cuidou dos 11 filhos. E como cuidou!

Carteira de Motorista de Rosario Jordão, expedida em Marília em 4 Dezembro 1937.

'Campo do Caveira' perto da rua Campos Salles 

“Meu pai, deu-me e, a todos meus irmãos, uma educação rígida, baseada na honestidade, na moral e bons costumes. O seu dia-a-dia, já era, para nós, uma lição de vida. Seu exemplo, até hoje marca nossa exis­tência, quer na vida particular, fami­liar ou profissional”.

“Em Marília, moramos em vários locais. Na rua Campos Salles, onde havia o Tiro de Guerra, meu pai construiu uma casa. Nos fundos havia o Campo do Caveira, onde joguei muita bola. Recordo-me dos jogos de peteca à noite, em plena rua, com os garotos e garotas vizinhos, em frente à nossa casa; das descidas pela rua, dentro de um pneu de ônibus. Um dia, o pneu bateu em uma parede e caiu sobre meu braço, fazendo dele uma manivela. Das idas aos jogos de baseball no campo japonês, na traseira da moto de meu pai. Muitos anos depois, mudamos para a Rua dos Operários, que depois de 1954, mudou de nome, para rua Presidente Vargas. Foi dalí que saí para São Paulo em 1950. Tive, sem dúvida, uma infância boa e feliz nessa nossa Ma­rília!”


Tardes dançantes do Marilia Tennis Club

A sede do Tennis Club era na aveni­da Sampaio Vidal. “Eu trabalhava na Rádio Clube de Marília, do outro lado da avenida, e para não perder os bailes, eu escolhia óperas e concertos que duravam de 40 minutos a 1 hora e deixava rodando no prato. Eu corria p'rá lá e dançava até o tempo suficiente para voltar corren­do à emissora e encerrar a apresenta­ção. Era bom demais”.

“Footing” aos domingos

 “Como era gos­toso aguardar a saída do cinema para ver as meninas desfilarem seu charme pela calçada em frente à Brasserie. E as partidas de sinuca no bilhar da Sampaio Vidal. Mi­nhas aventuras no buracão com colegas do Gynmasium e, na volta, um mergulho na piscina do japonês. Lembro-me do Tetsuo Okamoto e do Agenor de Freitas (ambos já falecidos). E tantas e tantas outras alegrias”.

Jordão, que hoje está com 81 anos, conta que começou a atuar como radialista “graças ao pro­grama de calouros do professor Octávio Lignelli.

“Em 1948, eu estudava no Gymnasium Estadual. Inscrevi-me como candidato a lo­cutor e ganhei várias vezes, tendo como apoio meus colegas de clas­se, que iam ao auditório da rádio para me aplaudir. O melhor candidato era escolhido pelo volume alcançado pelas pal­mas.  Embolsando os Cr$ 50,00 do prêmio, encontrava os colegas na Brasserie e tomávamos Cuba-libre à vontade. Um dia faltou o locutor que “abria” a emis­sora e o professor Octávio Lignelli foi buscar-me em casa. Nunca vou me esquecer do dia em que ele bateu à porta de minha casa, cedinho, e me levou na garupa de sua moto para ‘abrir’ a emissora, que estava sem locutor. A partir desse dia, fui efetivado como funcionário da Rádio Club de Marília”.

O meu primeiro programa se chamava “Tri­buna dos Estudantes”, que contava com a participação dos alunos das várias escolas da cidade, que se apre­sentavam para cantar, debater as­suntos de interesse da classe, fazer reivindicações, elogiar ou criticar. Ficou no ar alguns anos. “Quando sai de Marília, em 1950, o Faus­to Battistetti, posteriormente mais conhecido como Fausto Canova, passou a apresentar o programa”.

Código Morse interceptado 

Dalmácio Jordão lia as notícias que saiam nos jornais impressos. Mas isso não o agradava. “Eu não que­ria ser mais um “Gillete Press” – recortar notícias de jornais do dia para levar ao ar. Eu queria passar à frente do Repórter Esso da Rádio Nacional do Rio de Janeiro”.

Sabendo que a agência de no­tícias UPI - United Press Interna­tional - transmitia o noticiário por código morse do Rio de Janeiro para emissoras de outras quatro capitais onde havia o Repórter Esso, Jordão procurou o amigo Alfeu Afonso, radiotelegrafista da Compahia Paulista de Estradas de Ferro, para ver o que ele poderia fazer. “Dois dias depois ele aparece na Rádio Clube com cinco laudas de notícias de uma das edições do Repórter Esso. Disse que captava os sinais 40 minutos antes de cada edição. Quer dizer: eu pode­ria transmitir as mesmas notícias dadas pelo Esso do Rio de Janeiro, meia hora antes”.

A partir daí, ele sugeriu ao pro­fessor Lignelli que arrumasse um patrocinador para colocar o noti­cioso ao ar. “Não foi difícil. O pri­meiro patrocinador foi Casas Lapa – Repórter das Casas Lapa. Eram quatro edições de 2ª. a 6ª. e duas aos domingos, sempre meia hora antes de cada edição do Repórter Esso do Rio de Janeiro. Foi um sucesso! Meu noticioso era ouvido em Marília e toda região. O Heron Domingues, meu colega do Rio de Janeiro, não era mais “o primeiro a dar as últimas” e sim o Dalmácio Jordão”.

Jordão faz questão de ressaltar que isso ocorreu, sem nenhuma intenção de prejudicar quem quer que fosse. “Nenhum de nós, parti­cipantes do acontecido – locutor, radiotelegrafista, gerente e dona da rádio, dona Rosina de Moraes Cos­ta – pensamos que pudesse acon­tecer alguma coisa”.

Certo dia, inocentemente, Jor­dão escreveu à Esso falando do noticiário, de sua audiência, e do por quê de o Repórter Esso ser transmitido apenas por 4 capitais de Estado. Por quê não em Marília, considerada a Capital da Alta Paulista e que eu era capaz de narrar o Repórter Esso. Alguns dias depois dona Rosina recebe or­dens de suspender, imediatamente, as transmissões do meu noticioso, sob pena de lacração dos trans­missores da Rádio Clube. Acabou a alegria! Ou começou minha ale­gria... pois, alguns meses depois, a Esso me convida a participar de um concurso para escolha do lo­cutor que apresentaria o Repórter Esso pela RádioTupi de São Paulo, já que o noticioso estava deixando a Rádio Record. Fui, vi e venci!”.

A seleção para o cargo de locutor-titular do Reporter Esso foi feita por diretores da McCann-Erickson Publicidade, Esso, United Press e Emissoras Associadas de São Paulo. E a história de como fui convidado a participar do concurso e venci mais de 300 candidatos, é longa e deveu-se a uma ação audaciosa de minha parte. A única participação de dona Rosina de Moraes Costa na história é o fato de o Homero Silva ter comunicado a ela, por telefone, que eu tinha vencido o concurso e que eu deveria me apresentar até dia 15 de agosto de 1950 para assumir o cargo.

Senti-me honrado por haver vencido o concurso e representar o nome de Marília, apresentando, por quase 18 anos, um dos mais famosos noticiários do radio-jornalismo brasileiro. E vivi esses anos intensamente, como locutor, redator, tradutor e correspondente da United Press International, transmitindo o noticiário, inclusive, de minha casa, de bares e da redação da UPI." 



Dalmácio Jordão, o seu 'Reporter Esso'

Dalmácio Jor­dão perpetuou sua história, sua voz e seu texto em diferentes partes do mundo. Sem sair do Brasil, Jordão produziu textos que foram lidos em New York. Desde sua primeira apresentação do Reporter Esso, em 15 de setembro de 1950 pelos microfones da Radio Tupi de São Paulo, ele viveu o Repórter Esso, in­tensamente. “Não fui apenas seu locutor. Eu estava a postos as 24h do dia. Tinha até equipamento em casa, para transmissão de edições extraordinárias. Fiz cursos de in­glês e espanhol visando, um dia, trabalhar na United Press. E conse­gui, em 1954. Na UPI, fui tradutor, redator de duas das cinco edições do Repórter Esso e corresponden­te estrangeiro. Só que nunca saí do país a serviço da United Press. Eu era considerado correspondente estrangeiro lá fora, pois as notícias que a UPI de São Paulo mandava para New York para distribui­ção para o mundo, levavam a mi­nha assinatura: Dalmácio Jordão – correspondente em São Paulo”.

Dalmácio era as­sediado por políticos de todos os partidos e recebia os mais absurdos pedidos. Conforme o radialista, to­dos queriam aparecer no “Repórter Esso”. “Confesso que dei atenção especial ao nosso doutor Aniz Badra, que foi presidente da As­sociação Paulista dos Municípios e deputado federal, sem nunca ter recebido nada em troca, a não ser sua amizade”.

Desde que o assunto fosse notícia, Jordão anotava e transmitia em uma das edições do Repórter Esso. “E ele nunca usava o telefone para falar comigo. Ia à UPI para me cumpri­mentar, bater um papo e informar as novidades. Gostava dele”.

Dalmácio atualmente 

Provocado a fazer uma análise e comparação entre o jornalismo ra­diofônico do passado e o presente, Jordão destaca que antigamente faltava agilidade, meios para se chegar rápido ao fato acontecido ou que estava acontecendo. “Tínha­mos só o Código Morse e o telefone para comunicação com a emissora. Depois surgiram os teletipos e mais tarde, os satélites, a Internet e o te­lefone celular. A partir daí tivemos uma maior agilização da informa­ção”.  Para ele, hoje, o radio noticia o fato ainda acontecendo. É o imediatismo, a ocorrência sendo passada ao ouvinte, pelo repórter ou até mesmo por um radio ouvin­te no momento em que está acon­tecendo.. “Isso é o que torna o rádio maravilhoso”.

Dalmácio é casado, há 42 anos (desde 1972), com Eulice e tem cinco filhos, 12 ne­tos e 6 bisnetos. Tenho 8 irmãos e irmãs, morando em Marília. Sobre as atividades que desen­volve atualmente, Jordão brinca. “Como consta na minha página do Linkedin, na Internet: trabalho na empresa “Dolce Far Niente”, em Guarujá. Quer dizer: faço nada. Nestes meus mais de 80 anos, des­fruto as belezas naturais do lugar, a areia da praia e o bate-papo gostoso com os amigos. E há vários mari­lienses morando lá”.

Apesar da distância, Jordão res­salta que ainda tem amigos e pa­rentes da cidade. A comunicação com eles é feita via e-mail e pelo Facebook. “Tenho oito irmãos e ir­mãs. Todos adoram nossa cidade”, afirmou. Ele conta ainda que tem muita vontade de voltar, para estar perto dos irmãos e irmãs, de alguns amigos sobreviventes e de novos amigos que, com certeza, faria. “Mas outros motivos me prendem por aqui. Meus filhos, minhas ne­tas e bisnetas queridas”. O que mais o atrai na cidade é “o visual, o cres­cimento de minha cidade e a con­servação de algumas áreas verdes que conheci ainda criança”.

Dalmácio relata notícia que gostaria de ter anunciado

A reportagem do Correio Mariliense provocou Dalmácio Jordão, questionando qual notícia gostaria de ter dado, como Repórter Esso, mas não teve oportunidade.

Ele respondeu que noticiou muitos fatos importantes nos 18 anos de Repórter Esso: os acontecimentos que precederam a morte do pre­sidente Getúlio Vargas, o atentado que matou o presidente dos Esta­dos Unidos, John Kennedy, a renúncia do presidente Jânio Quadros, a descoberta da vacina contra a paralisia infantil, os primeiros passos do homem na Lua, o fim das guerras da Coréia e do Vietnã e tantas outras.

“Mas a notícia que eu gostaria de ter dado, não aconteceu:

WASHINGTON – URGENTE – Terminou a reunião iniciada há cinco dias com a presença de todos os chefes de Estado de todo o mundo. Foi assinado um acordo determinando a Paz Mundial. O país que iniciar uma guerra será penalizado por todas as nações signatárias do acordo.

Essa eu não dei. E nem sei se um dia alguém a dará”.

1964


reportagem da revista 'São Paulo na TV'  13 Janeiro 1964.

'1963, primavera. Decido-me a deixar o radio e a TV. Treze anos transmitindo notícias. Faltam alguns dias para ler minha última edição do 'Repórter Esso'. E à medida que o dia se aproxima, ao apresentar cada edição, sinto um vazio dentro de mim. Acho que é o vazio da saudade'.

Foi assim que Dalmácio Jordão escreveu para a reportagem de 'S.Paulo na TV' sôbre como aguardava o instante de deixar, definitivamente, o programa que o tornou tão conhecido no Brasil inteiro.

Logo, uma 'cara nova' estará no video, ocupando o seu lugar. Mas, apesar da saudade que já sente, Dalmácio encara o futuro com muito otimismo: 'Quero dedicar-me inteiramente à propaganda. É a profissão do meu signo, o Touro. E, como diz meu caro amigo Omar Cardoso, 1964 será o ano do Touro'. Mas esta história, como tôdas as outras, também teve começo e meio.

O começo

Dalmácio Jordão iniciou-se no radio em 1948 em Marília. E é ele quem descreve como foi a estréia: 'Fui tirado da cama às 6:30 da manhã para abrir a emissora de Marília, que estava sem locutor. Participante assíduo de um program de calouros na emissora, chagara, naquela manhã , a minha grande oportunidade. E aproveitei-a bem. Daquele dia em diante passei a locutor titular da PRI-2. Dali para frente, fiz de tudo frente a um microfone: locução comercial, narrador, locutor de rádio-jornal, animador de auditório, produtor e, até mesmo, corretor'.

O meio

Ele se tornou 'O Reporter Esso' em 1950. lnverno. Frio em São Paulo. Um mariliense (eu mesmo) tiritando de frio e nervoso, participava de um concurso para a escolha do locutor do 'Reporter Esso'. Fiz o teste e, num noturno, na mesma noite, regressava a Marília. Uma espera angustiosa que durou 3 dias, após os quais eu era avisado de que vencera e devia assumir meu novo posto na Radio Tupi de S.Paulo. Meu grande sonho tornava-se realidade...'

O começo do fim

'Como locutor do 'Reporter Esso', procurei aprofundar-me o mais possível dentro do mundo da notícia. Ingressei, como tradutor e redator, na United Press International. Durante 7 anos, travei intensamente contacto com a notícia escrita e filmada, fotografada e radio-fotografada daquela agência internacional. Foi uma grande escola'.

E agora?

Agora, Dalmácio Jordão deixa uma lacuna difícil de ser preenchida.

O moço que nasceu em São José do Rio Prêto-SP, começou em Marília-SP e consagrou-se em São Paulo, transfere, para outro a responsabilidade que recebeu há 7 anos atrás. Acrescida pela fato de que, durante êsse tempo, o posto foi ocupado por um moço simples, sem vaidade, porém dotado de extraordinários dotes. Sim, a responsabilidade do moço que começa é muito maior do que a de Dalmácio Jordão quando êste iniciou. Por uma razão muito simples: o moço que começa agora terá de substituir Dalmácio, problema que êste não teve de enfrentar.

texto da revista 'São Paulo na TV' de 13 Janeiro 1964.

Dalmácio Jordão comenta sobre sua biografia em Dezembro de 2012 

Carlus: Quem lhe substitui no comando d' O Reporter Esso na Radio Tupi de S.Paulo em 1964?

Dalmácio: 'Quem me substituiu, durante aproximadamente 9 meses, em 1964, foi o Fabbio Perez que venceu o concurso para ser meu substituto. Deixei o 'Repórter Esso' porque me indispus com a direção das (Emissoras) Associadas e solidarizei-me com meu amigo e colega Kalil Filho, apresentador do 'Repórter Esso' da TV Tupi, que estava deixando a emissora.

A partir de 1º de janeiro de 1965, o 'Repórter Esso' saiu da Tupi e foi para a Radio Nacional de São Paulo. Convidado pela Esso e McCann-Erickson a voltar, eu aceitei. Pouco tempo depois, os Marinho compraram, do Victor Costa a Radio Nacional, que passou a chamar-se Radio Globo de São Paulo. Fiquei até o final do noticioso, em 31 de dezembro de 1968.

Carlus:  Você se arrependeu de ter deixado o 'Reporter Esso' ainda tão jovem?

Dalmácio: Não é que me arrependi, Carlus. Eu não tinha alternativa. 'O Repórter Esso' havia acabado. Mesmo assim, continuei na Globo, só que na Televisão, apresentando um noticioso chamado O Globo em 2 Minutos. Fiquei de 1965 a 1968, quando saí para dedicar-me exclusivamente à Propaganda onde já vinha trabalhando há anos.

Comecei na McCann-Erickson, como Supervisor do Repórter Esso da TV Tupi, depois botaram-me como contato, atendendo entre outras contas, a Esso e a Coca Cola. Em 1973, fundei minha própria Agência, a Dejota Propaganda. Em 2000, aposentei-me e passei a Agência para meu filho Renato, que não deu continuidade por partir para outra atividade profissional.

Carlus:  Você deixou o Reporter Esso no início de 1964. Em 1o. de Abril de 1964 houve um Golpe Militar, onde se quebrou o regime democrático instalado desde 1946. Houve alguma interferência em sua carreira?

Dalmácio:  Não. O golpe militar de 1964 não chegou a afetar-me, profissionalmente. Eu já havia deixado o 'Repórter Esso'. Afetou, isto sim, meu substituto, o Fábbio Perez, que foi obrigado por militares e censor a deixar de apresentar a edição das 8 horas da manhã de 1º de abril. Meu noticiário da TV Globo, não era ainda muito conhecido. O 'Repórter Esso', sim, chamava a atenção dos militares, por ser o mais importante noticiário de Rádio e TV brasileiros.

Dalmácio Jordão.

Atendendo a pedido de meu filho, vamos, então, contar a minha versão, que é a verdadeira: o Milton Figueiredo, quando assumiu o noticiário, em 1950, era o apresentador temporário. O Repórter Esso havia saído da Radio Record e, então, foi realizado um concurso para escolha de um novo titular que o apresentaria pela Radio Tupi.

Eu venci esse concurso, do qual participaram mais de 300 candidatos. E acabei ficando à frente do Repórter Esso, na Radio Tupi e, depois, na Radio Nacional Paulista, por 18 anos, isto é, até o seu final, em 31 dezembro 1968. É isso aí...

Dalmácio Jordão, 12 Janeiro 2017.


Meu pai, Rosario Jordão, seu carro Lincoln 1941, que ele usou como carro-de-aluguel por muitos anos em Marília; a família nos altos da escadaria. Dalmacio Jordão posted at Facebook on 18 July 2017. 

Saturday, December 15, 2012

VERA LUCIA, contadora e radio-atriz


Vera Lucia, radio-atriz de Jahu, brilhou nas ondas da Radio Club de Marilia no início dos anos 1950.


A Radio Club de Marília sempre foi um reduto de talentos dos mais variados. Tanto talento local como um imã atraindo talentos de outras plagas.

Enid Goulart, mais conhecida como Vera Lúcia, nasceu em 22 Julho 1928, em Jahu. Começou na Radio Jauhense PRG-7 em 1949.

Em 1950, veio à Marília para chefiar a Contabilidade da PRI-2, que pertencia à Rede Iteriorana de Estações de Radio sediada em Jahu.

Em pouco tempo Vera Lucia tornou-se radio-atriz e narradora de novelas, trabalhando no 'Grande Teatro' aos domingos. Seu grande êxito como radio-atriz foi 'O preço da felicidade', ao lado de Luiz Ayala.

Em 1951, Vera Lucia foi eleita 'Rainha do Carnaval' de Marília.

No final dos anos 1940 começou a haver uma 'debandada' de talentos radiofônicos da PRI-2 que foram atraídos por outros mercados. Wolner Camargo foi para a Radio Tupi do Rio de Janeiro em 1947 trabalhar na equipe do Ary Barroso. Doalcey Camargo seguiu o irmão e foi para Radio Globo do Rio em 1949. Milton Camargo foi para a Radio Difusora de São Paulo ainda em 1949.

Dalmácio Jordão foi para a Radio Tupi de São Paulo em Agosto de 1950, tornando-se o apresentador de 'O Repórter Esso'.

Em 1952, o êxodo mariliense continuou com Amaro Cesar, Roditi Silva, Paulo Fernandes e Muybo Cury foram para a Radio Bandeirantes; Oswaldo Ramil e Tânia Ramirez foram para a Radio Cultura; Claudio Miranda para a Radio Piratininga e Geraldo Tassinari para a Radio Nacional de São Paulo. 

Vera Lúcia a princípio iria para a Radio Cultura, mas acabou na Radio Record, assinando contrato com Thalma de Oliveira. 

Vera Lúcia em 1958, quando era do 'cast' da Radio Record de São Paulo. 

P.S.:  as informações contidas nessa página foram dadas pela própria Vera Lucia, em entrevista à pesquisadora do Radio Brasileiro, Thais Matarazzo, no ano de 2010. Thais me disse que Vera Lucia faleceu em 2011, um ano depois dessa entrevista.
Foto da esquerda: em frente à Radio Club de Marília: Rodite Silva, Tassinari, Vera Lúcia e Otávio Lignelli. Na foto da direita: Rodite Silva, Vera Lúcia e moça não-identificada.
Vera Lucia, Rainha da Imprensa e do Carnaval de Marília 1951. 


Wednesday, December 12, 2012

Capitão Marvel

Para nós que crescemos nos anos 1940s e 1950s, ler ou colecionar gibi era uma atividade altamente agradável e praseirosa. Cada menino tinha seu herói favorito. Uns gostavam de cow-boys outros de 'super-heróis'. Eu tinha não apenas um, mas dois favoritos: em 1o. lugar absoluto era o Fantasma (Phantom) e logo em seguida vinha o Capitão Marvel, um super-herói que tinha os mesmos poderes do Superman (Super-homem), mas era na verdade muito mais interessante. O Capitão Marvel, quando não estava em suas roupas de super-herói era apenas um rapazinho chamado Billy Batson, que trabalhava como locutor da WHIZ de New York. Quando precisava de ter seus super-poderes, o Billy tinha que pronunciar a palavra -mágica SHAZAM... e se transformava imediatamente no colorido e poderoso Capitão Marvel... 
Billy Batson era loucutor da WHIZ de New York...
Capitão Marvel era o alter-ego másculo de Billy Batson. 
A Família Marvel... Captain Marvel, Mary Marvel & Captain Marvel, Junior.
Mary Marvel ficou tão famosa que ganhou até um gibi próprio...
Frank Coghlan, Jr. fez o papel de Billy Batson... enquanto Tom Tyler fazia o Capitão Marvel no seriado 'As Aventuras do Capitão Marvel', de 1941.

Monday, December 10, 2012

CINEMAS in the region

Cine São José em Garça-SP; Miguel Monico era o dono do cinema.
Cine Oriente em 1943 passava 'Quando morre o dia' (Sundown) com Gene Tierney produzido em 1941.
Cine Tupã... Art Deco par excellence.
Cine Baurú... Art Deco was de rigeur... 
Cine Ourinhos.
Cine Ourinhos in the 1950s seen from different angles. 
Cine Broadway in Piracicaba-SP reminded São Paulo's own Cine Broadway on Av. S.Joao.
Cine Ouro Verde, de Londrina-PR.
Cine Ouro Verde, de Londrina era considerado o mais luxuoso de todo interior de SP e Paraná.
Cine Paratodos in São Manuel-SP. Those stand for lobby cards were eagerly sought by kids. Even those who knew they didn't have money to watch them would dream away by just looking at those lobby cards.
Cine Paratodos de Botucatú, construído pelos Irmãos Pedutti em 1934. Ainda preservado o edifício na Praça Emilio Pedutti. Foto Thaís Matarazzo.
Cine-Theatro Casino in Botucatú-SP. 
Emilio Pedutti concorrendo para prefeito de Botucatú-SP.
Cine Central de Guaratinguetá-SP. 

Friday, November 30, 2012

'Zwei blaue Augen' in Marilia


'Zwi blaue Augen' (Dois olhos azuis) 1955

Entre 1955 e 1960 eu estudei no Grupo Escolar Thomaz Antonio Gonzaga, na esquina da rua Pedro de Toledo com a rua Rio Grande do Sul. 

Nesses 5 anos, frequentei 3 anos o período da manhã; das 8:00 as 11:00; fiz o 2o. ano durante no segundo-período, das 11:00 às 14:00 e o período da tarde começava as 14:00 terminando as 17:00.

Durante esses 5 anos, me lembro que, algumas vêzes, a rotina escolar foi quebrada para algum acontecimento extraordinário. Me lembro quando a Coca Cola chegou em Marília. A companhia compareceu ao Grupo e distribuiu garrafinhas-chaveiros da Coca, além de distribuir réguas vermelhas com o logo-tipo da companhia. Não sei se isso era legal. Provavelmente não fosse. Imagina uma companhia de refrigerantes estrangeira chegando numa escola estadual, parando toda atividade escolar para fazer sua propaganda corporativa. Quem seria o governador de então? Carvalho Pinto ou outro político de direita, sem dúvida.

Mas, deixando a Coca Cola de lado, as vêzes, as aulas eram dispensadas e os alunos eram levados à alguma comemoração cívica acontecendo na Avenida ou outro lugar público.

Pelo menos 2 vazes, eu me lembro que os alunos do Grupo Escolar inteiro foram caminhando em fila indiana em direção ao Cine Marília, tendo abarrotado as dependências daquela casa de espetáculos. É gozado que não se precisava de autorização dos pais das crianças para as desviarem de seu currículo escolar.

Uma dessas vezes nos foi exibido um filme sobre os milagres de Nossa Senhora de Aparecida. Era um filme branco-e-preto mostrando as cenas mais manjadas das várias lendas relacionadas à Santinha.

Passado aproximadamente um ano, lá fomos nós do TAG, em fila, em direção ao Cine Marília novamente. Dessa feita era uma promoção da Kolynos, dentifrício mais popular do país. Não sei como tudo isso ainda está gravado em minha memória, mas foi a Kolynos que nos levou ao Cine Marília, e dessa vez para assistir um filme alemão realizado em 1955, chamado 'Dois olhos azuis' (Zwei blaue Augen), direção de Gustav Ucicky. Antes do filme projetaram alguns comerciais da Kolynos.

Marianne Koch & Claus Holm fazem o par romântico.
Fraulein Koch & director Gustav Ucicky; a ceguinha e o engenheiro.
a mãe da ceguinha faz o papel de 'bandida', sendo ciumenta do amor da filha pelo engenheiro.

Nós, crianças marilienses, estávamos acostumados a assistir filmes em cinemas barulhentos e lotados. O zum-zum de crianças conversando ou fazendo estrepulias nunca parava, mas assim mesmo eu não perdia o fio da história. Eu diria que 95% dos filmes nos anos 1950 eram em branco-e-preto. Raramente passava-se filme colorido nas matinees. 

Talvez 'Dois olhos azuis' nunca tivesse ficado retido em minha memória se não fosse algo espetacular que acontece nos últimos 5 minutos de projeção dessa história de amor, passada em Hamburg, entre uma ceguinha, sua mãe super-protetora e um engenheiro galã pelo qual a ceguinha se apaixona.

Lá pela metade do filme, resolve-se que a ceguinha irá se submeter a uma operação para tentar reverter sua situação de total escuridão. O drama vai se arrastando até os últimos 5 minutos, quando, finalmente lhe tiram as vendas dos olhos. E é justamente aí que acontece o milagre... A película que já passava de uma hora de duração se transforma em TECHNICOLOR assim que Marianne Koch percebe que consegue ENXERGAR as cores...

Que maravilha!!! Não me lembro exatamente o que se passou na platéia do cinema, já que não houve os gritos costumeiros de quando o mocinho bate no bandido. Mas houve uma total surpresa entre todos que estavam acostumados ao branco-e-preto e de-repente viram cores brilhantes na tela gigante do Cine Marília.

Foi um acontecimento inesquecível. Tão inesquecível que me lembro até hoje... passados mais de 40 anos. 
Marianne Koch, linda alemã, chegou a tentar Hollywood, sem muito sucesso.
A grande surpresa (e sacada) de 'Dois olhos azuis' é justamente nos 5 minutos finais, onde tudo se torna colorido, como a capa dessa revista alemã com a estrelinha Marianne Koch, que esteve no Brasil para o lançamento de 'Zwei blaue augen' em 18 Novembro 1959, em São Paulo; Em 1955 essa cena era considerada 'romântica'. Hoje seria vista com desdém pela maioria do público.