Monday, April 30, 2012

TETSUO OKAMOTO, Olympian swimmer

3 de Agosto de 1952 na piscina olímpica de Helsinki, Finlândia.

Tetsuo brilhou nas Olimpíadas de Helsinki 

Pela primeira vez, Marília, a 'cidade-menina', esteve representada nas tradicionais Olimpíadas, certame que congrega atletas de todo o mundo. 

Tetsuo Okamoto, o jovem nadador do Iara Clube, o mariliense que tantos louros tem conquistado para o seu clube, para Marília e para o Brasil, conseguiu destacada classificação, quando competiu em Helsinki com os maiores 'azes' da aquática mundial, surgindo então como o terceiro homem do mundo nesse esporte.

A prova em que tomou parte, e que lhe valeu sua gloriosa presença na representação pátria, foi de 1.500 metros nado livre e o seu tempo de 18,51" 3/4.

As fotos que apresentamos aqui, foram apanhadas pelo jovem Bombarda, outro mariliense que esteve em Helsinki, integrando a representação de bola-ao-cesto do Brasil. 

Em primeiro plano registra a foto a chegada sensacional, vendo-se Tetsuo na terceira baliza, no ponto onde a deslocação da água é maior. 

O segundo clichê apresenta as bandeiras vitoriosas: norte-americana, japonesa e brasileira. 

Tetsuo Okamoto brilhou em Helsinki, para satisfação do mariliense, e mais ainda, de todos os brasileiros.

Salve Tetsuo, salve Iara Clube, que o revelou para a aquática mundial. 
Cavalheiro das Águas 

Ao subir uma das balizas do estádio olímpico de Helsinki, na tarde do domingo 3 de agosto de 1952, Tetsuo Okamoto, brasileiro, filho de japonêses, não pensava em nada. Deixara da nadar 10 dias antes dos Jogos por conta da água muito fria da piscina em que treinava em Marília. Tivera um desempenho sofrível em outra prova uma semana antes. E, na noite anterior, seus colegas de alojamento resolveram cantar e farrear, impedindo-o de dormir sossegado.

Menos de 20 minutos depois, o rapaz de Marilia-SP, colocava a natação brasileira no mapa esportivo mundial. Conquistara um inédito 3o. lugar, desempenho espetacular para um país em que era exótico se dedicar a esportes aquáticos.

Na madrugada de 2 de outubro de 2007, uma terça-feira, Okamoto, aos 75 anos, deixou de nadar definitivamente. Uma combinação de problemas renais com insuficiência cardíaca e respiratória deu o golpe fatal em um homem de fala tranqüila, avesso a formalidades e que soltava cada frase com uma expressão sorridente. Um cavalheiro das águas.

Ha tempos, duas coisas o incomodavam. A hemodiálise feita regularmente e a Hidrotécnica Okamoto, sua empresa de perfuração de poços artesianos, que não iam lá muito bem. As glórias esportivas ficaram para trás. Um pouco da história deste campeão é aqui contada com base em uma longa entrevista, feita em 2004.


Tetsuo Okamoto nasceu em Marília-SP em 20 março 1932. Sua paixão pelas águas começara na adolescência. No início dos anos 1930, Marilia era destino de levas de imigrantes japoneses. Nos anos 40, devido ao Japão ser parte do Eixo, e em guerra com o Brasil, os imigrantes enfrentaram muita hostilidade por lá.

Um dia chega à cidade, Fausto Alonso, funcionário público transferido de São Paulo. Era ex-nadador e entusiasta do esporte. Entra em contacto com o Yara Clube, centro de lazer da elite local. A piscina estava ociosa e Fausto propõe formar uma equipe com a garotada interessada, incluindo Tetsuo Okamoto, que fora nadar por recomendação médica e insitência de seu pai, pois era asmático.

Aos 15 anos, participando de campeonatos regionais, Tetsuo passou a colecionar medalhas, tornando-se campeão paulista e campeão brasileiro, em 1950.

Em abril de 1950, passou pelo Brasil uma equipe de nadadores japonêses que se exibia pelas Américas. Eram os peixes-voadores. Por dois mêses o grupo viajou pelo país, arrastando multidões para as beiras das piscinas. Quando chegou a Marilia, topou com o Okamoto, àquela altura já bastante conhecido. 'Como vocês treinam?', quis saber o brasileiro. A resposta o deixou atônito: 'Nadamos 10 mil metros por dia!' O mariliense encabulou-se. Diariamente ele fazia apenas 1.500 metros.

Na primeira oportunidade, Okamoto botou os 10 mil metros na cabeça e caiu na água logo cedo. Em duas etapas, no fim da tarde completou a distância almejada. Repetiu a dose na manhã seguinte e chegou ao fim da semana literalmente arrebentado. Sozinho, refêz o treino, estabelecendo uma progressão diária até se condidionar à meta.

Tetsuo Okamoto e seu rival Tonatiuh Gutiérrez do Mexico, nos Jogos Pan-Americanos de Buenos Aires em 1951.
No começo de 1951, a glória: Tetsuo tornou-se recordista e campeão nos Jogos Olímpicos Pan-Americanos de Buenos Aires, dos 400 e 1.500 metros livres. Meses depois recebeu a notícia que qualificara para participar das Olimpíadas de 1952.
1951 - Haroldo Lara, do C.R. Saldanha da Gama de Santos-SP, bate o record brasileiro dos 200 m nado livre - Tetsuo Okamoto e João Gonçalves Filho do Ginasio Koele de Rio Claro-SP.
at Yara Club with his coach and fans; local politician Aniz Badra is on the far right.
Tetsuo Okamoto no aeroporto de Marília com Fausto Alonso, seu treinador,  pronto para uma conexão à São Paulo, que o levaria à Helsinki.

O inverno de 1952 foi particularmente rigoroso na Alta Paulista. A temperatura da água estava 14 graus no início de julho e nosso atleta fêz míseros 100 metros e correu para o chuveiro. Tremendo, tomou uma decisão: 'Estou com a vaga garantida nas Olimpíadas e vou apenas passear. Se eu continuar a nadar, pego uma pneumonia."

Quando chegou em Helsinki ele espantou-se com a água aquecida. Viu ainda que sua prova principal estava marcada para o final do evento. Tinha duas semanas para retomar à forma.

Na tarde de 3 de agosto de 1952, ao longo da competição, Okamoto deixou para trás o norte-americano James McLane, campeão olímpico dos Jogos de 1948. Disputou cabeça-a-cabeça com outras duas feras, o japonês Shiro Hashizumi, recordista mundial, e o havaiano Ford Konno. Nos ultimos 200 metros, ouviu a vibração da torcida, reuniu forças e disparou.

Konno ficara em primeiro, Hashizumi em segundo e Okamoto conquistara o bronze com 18mi51s30.

Ainda zonzo, ele não chorou nem vibrou, ao subir no pódio. 'Sei lá, olhei a medalha em meu peito e, por uma fração de segundo, senti um imenso vazio. Aqui está meu sonho e ele acabou.'
Japonês Shiro Hashizumi, prata, havaiano Ford Konno, ouro e Tetsuo Okamoto, bronze em Helsinki.

Tetsuo foi recebido em carro aberto em Marília, saudado como herói pela imprensa. Tornou-se símbolo da natação brasileira. Mas nunca fez de seu nome uma grife ou ganhou dinheiro com o esporte.

Mudou-se para São Paulo e não conseguiu mais treinar. Foi para os Estados Unidos, nadou um pouco e formou-se em Geologia e Administração de Empresas em uma universidade no Texas.

Retornou ao Brasil em 1959, e desistiu das piscinas. Só voltou a nadar em meados dos anos 1980, em São Paulo, onde morava com uma irmã. Ia a Marília a cada 15 dias, 'cuidar de uma terrinha lá'.
E a gloria, Tetsuo? 'Não tem isso, não. Hoje você é campeão, todo mundo te procura, e depois, quando precisa, ninguem te dá bola.' Falava sem tristeza. E ainda exibia aquele cativante sorriso nos lábios.
texto de Gilberto Maringoni para a revista 'Carta Capital' de 10 de outubro de 2007.
A piscina dos japonêses, onde Tetsuo começou a treinar, antes de ir p'ro Yara Clube.

Essa é a famosa piscina dos japoneses. Isso porque estava em um terreno de chácara deles, no fim da atual Avenida Presidente Roosevelt - continuação da Av. Santo Antônio. A foto nos foi enviado pela Eliane Terumi Yamassaki. Notem o terreno à esquerda, recém desmatado e também à direita, a plantação de verduras.

Parece que é o dia da inauguração da piscina. Era uma área de muitas nascentes, que seguramente abasteciam a piscina. Quando conheci este local, ele era todo plantado de kikan. Também tinham construído canais e tanques para irrigar as plantações de verduras. Às margens dos canais eram plantadas de copos de leite. O pai da Eliane morou em uma das duas ou três casas de tábua que havia nesse lugar. Comentários de Mansur Lutfi.



reportagem da revista 'Carta Capital' de 10 Outubro 2007.

Entrevista que Tetsuo Okamoto deu à Revista Nippon e postada no site:

www.culturajaponesa.com.br/htm/tetsuookamoto.html.
Como começou a praticar natação?
“Eu era asmático e comecei a nadar por que alguém disse que isso faria bem. Um dia, em 1947, surgiu um ex-nadador, que pretendia formar uma equipe de natação em Marília. Eu tinha 15 anos e passei a treinar com esse grupo num bom clube, deixando de lado aquela piscina sem azulejos onde eu havia iniciado.”
E como começou a competir?
“Naquela época era muito difícil e caro viajar. E sabíamos que, se fôssemos competitivos, poderíamos viajar e conhecer vários lugares. Começamos treinando para ganhar viagens e fomos crescendo. Assim participei do campeonato paulista e brasileiro, além dos regionais.
Nadávamos de 1.000 a 1.500 metros por dia. O técnico tinha medo de forçar muito, pois éramos todos franzinos, tanto é que o meu apelido era Tachinha, porque tinha uma cabeça grande e o corpo magrinho.

O que aconteceu para um garoto franzino poder ir para uma Olimpíada?

“Em 1949, quatro nadadores japoneses vieram ao Brasil. Eles ficaram notáveis em sua época, pois passaram pelos Estados Unidos e derrotaram todos os americanos. Apelidados de “Flying Fish”, ou peixes-voadores, aqueles japoneses ganharam até matéria na revista Time, e representavam o fato mais excepcional do esporte mundial. No Brasil ficaram 2 meses fazendo exibições em várias cidades. Foi aí que os japoneses recomendaram que nós nadássemos 10 km por dia para treinar. Eu fui o único doido que decidiu treinar duro para ser campeão.”

Nas Olimpíadas como foi o confronto com os ídolos japoneses?

“Dos quatro que estiveram no Brasil, três disputaram comigo em Helsinque. Os treinamentos deram certo e eu ganhei a medalha de bronze nos 1500m, atrás do japonês Shiro Hashizume. Em primeiro lugar ficou outro descendente de japonês, o americano Ford Konno, do Havaí.
O pódio ocupado só por “japoneses” chamou muita atenção na época. Fui para o Japão em 1977 e eles ainda se lembravam disso.
Voltei para Marília e houve festa de novo e mais um feriado. Naquele ano, o Brasil ganhou só mais duas medalhas olímpicas. Ademar Ferreira da Silva ganhou ouro no salto triplo e José Teles da Conceição teve bronze no salto em altura.”
Após deixar a natação, com seus feitos históricos, “Tachinha” foi para os Estados Unidos e lá se dedicou aos estudos de geologia e administração de empresas.
Acredito que só temos a agradecer Tetsuo Okamoto pelo que fez a natação brasileira! E a melhor maneira para isso é ter o conhecimento de seus feitos e segui-lo como um exemplo de vida.
Foi por causa do desejo de viajar e conhecer novos lugares que Okamoto, então com 15 anos, aceitou a idéia de se dedicar mais aos treinos na piscina após a chegada de um novo treinador no Yara Clube de Marília, que revolucionaria o método de preparação de um jovem apresentado à natação aos sete anos com a esperança de curar problemas de asma.
Ainda assim, o tal "método revolucionário" era, no mínimo, curioso. A mudança significaria nadar de mil a dois mil metros por dia, o que nos dias de hoje chega a ser menos que o exigido em aulas básicas.
A grande reviravolta viria mesmo dois anos depois, em 1949, quando teve a oportunidade de conhecer nadadores japoneses, no Brasil para série de exibições após vitória sobre os melhores atletas da época. Com o contato, Okamoto percebeu que precisaria de "algo mais" para chegar naquele nível. Foi então que passou a nadar dez mil metros por dia.
O "Tachinha", apelido ganho na época, devido ao corpo magro e à "cabeça grande", começou então a despontar. O sonho de conhecer o Brasil se concretizava aos poucos e ganhava proporções maiores a partir de 1951, ano em que foi convocado para disputar os Jogos Pan-americanos de Buenos Aires.
Foi nesta competição que Okamoto apareceu de vez, com duas medalhas de ouro - nos 400m e nos 1.500m livres - e uma de prata - no revezamento 4x200m -, mesmo em condições desfavoráveis, levadas ao extremo pela rivalidade entre Brasil e Argentina.

Presidente Juan Domingo Perón declara abertos os Primeiros Jogos Pan-americanos 1951.
Evita Perón na abertura dos Primeiros Jogos Pan-Americanos, em 1951 em Buenos Aires.

A campanha no ano seguinte à dolorosa derrota da seleção de futebol na Copa do Mundo de 1950, fez com que Okamoto fosse alçado à condição de ídolo, com direito a apresentações para grandes públicos em cidades do interior de São Paulo. Em 1952, garantiu vaga nos Jogos Olímpicos de Helsinki, mesmo longe da melhor forma. Isto aconteceu porque Marília enfrentava, pouco antes das Olimpíadas, um de seus mais rigorosos invernos e impossibilitava treinos de maior qualidade.
Okamoto chegou literalmente frio numa quente Helsinki, mas recebeu a boa notícia de que a prova dos 1.500m fecharia a programação da natação. Teve, então, duas semanas para compensar o tempo perdido. No meio da preparação, abandonou a idéia de disputar duas provas e se concentrou na que gostava mais: a dos 1.500m, mesmo com forte concorrência dos mesmos japoneses que haviam passado pelo Brasil anos antes e dos norte-americanos.
Havia ainda outro fato que dificultava a situação. Ele chegava em segundo plano entre os brasileiros, já que os holofotes estavam no carioca Sílvio Kelly dos Santos, que acabara de garantir recorde sul-americano na mesma prova. Mas Sílvio Kelly decepcionou nas eliminatórias, não se classificando para a final e deixando o caminho livre. À frente, porém, apareciam ainda o norte-americano Ford Konno e os japoneses Shiro Hashizume e Yasuo Kitamura, com melhores tempos.
Na prova, Okamoto surpreendeu e baixou seu tempo das eliminatórias em mais de 15 segundos. A excelente marca de 18min51s30 só não foi suficiente para superar Konno, medalha de ouro com 18min30s, e Hashizume, prata com 18min41s40. Ainda assim, fez com que chegasse em terceiro, completasse o pódio "nipônico" - Konno e Okamoto eram descendentes diretos de japoneses - e se tornasse o primeiro nadador brasileiro a conquistar medalha olímpica na história.
Helsinki in 1952.
Após o triunfo, Okamoto voltou ao Brasil e, em meio a mais festas, enfrentou dura decisão. Aos 20 anos e sem dinheiro de patrocínios (o esporte era estritamente amador), recebeu proposta para fazer faculdade nos Estados Unidos e decidiu ir. Ele cursou geologia na Texas Agricultural Mechanical College, ainda se manteve como nadador durante o período, em disputas universitárias, mas aos poucos se distanciou do esporte. Na volta ao Brasil, trabalhou em empresas até 1977, quando resolveu abrir a Hidrotécnica Okamoto, de perfuração de poços artesianos.
De sua campanha em Helsinki, não guarda nem a medalha que conquistou. Ela está em salão especial no Yara Clube de Marília, graças à doação de Okamoto.
Na madrugada de 2 outubro 2007, o Brasil se despediu de seu primeiro medalhista olímpico da natação. Vítima de insuficiência respiratória e cardíaca, Tetsuo faleceu em Marília. (Elói Silveira da Gazeta Esportiva).
Tetsuo e uma autoridade dos Jogos Olímpicos em Helsinki, Finlandia. 
Tetsuo Okamoto
Tetsuo Okamoto morreu em 2 de outubro de 2007.

Tetsuo Okamoto's heritage

young trainees at Yara Clube.
trying to emulate Tetsuo at Marilia's swimming pools.
diving-board at breaking point at Yara Clube's swimming pool.
new talent at Yara Clube in the 1950s. 
Marilia's swimming team.

Peixes Voadores 

Chegada dos Peixes Voadores ao Brasil por avião da Cruzeiro do Sul ; da esquerda p'ra direita: Yussa (técnico), Murayama (de óculos), Hironoshin Furuhashi (recordista mundial de 1.500 m), Shiro Hashizuem & Hamamoto.

Os Peixes Voadores na piscina do Pacaembú.
Recepção aos Peixes Voadores em Lins-SP in 1951.
os Peixes Voadores na piscina de Lins-SP.
os Peixes em Lins-SP

Peixes Voadores (Tobiuo) - Em 1950, Kan-Inchi Sato iniciou intercâmbio esportivo entre Brasil e Japão. Em Março de 1951, os Peixes Voadores visitaram o Brasil se apresentando na piscina do Estadio Municipal do Pacaembu.

Pela 1a. vez, depois do termino da II Guerra Mundial, executava-se o Hino Nacional do Japão e hasteava-se a bandeira do Sol Nascente no exterior, levando ao choro milhares de japoneses e nisseis. Com o sucesso das apresentações dos Peixes Voadores, o DEFE conseguiu obter verba para a construção da 1a. piscina aquecida do Brasil, no bairro da Agua Branca.


Kan-Ichi Sato 
leia mais sobre os japoneses de Lins http://historiailustradadojapao.blogspot.com.br/2011/04/cronologia-da-imigracao-japonesa-em.html
Alekcey Kireef, Tetsuo Okamoto & Antonio Bellieni de Souza (from Santos-SP).

Tetsuo Superstar

Tetsuo at Marília airport. 
Tsuyok (mother), Tetsuo & Sentaro Okamoto (father).