Thursday, April 26, 2012

Radio in Marilia in the 40s & 50s

PRI-2 - Radio Clube de Marilia had its studios on top of Cine Bar on Avenida in the 1940s.  
Radio Club de Marília em cima do Cine Bar nos anos 1940. A fila se formava nas manhãs de domingo para assistirem ao 'Programa Infantil', muito famoso em toda a região.

In the 1950s Marilia had three radio stations: Radio Clube de Marilia, the first stations set up in 1940; Radio Vera Cruz de Marilia that belonged to the Catholic Church and Radio Dirceu de Marilia, as you can read below started transmission in 1955.

palco-auditório da Radio Dirceu de Marília circa 1958; DJ Marcelino Medeiros é o 2o. da dir.p'ra esq.
an old Radio Dirceu de Marília microphone.

6 Outubro 1955 - na Revista do Radio aparece nota: Radio Dirceu de Marilia, recentemente inaugurada, pertence à Rêde de Emissoras da Rádio Piratininga de São Paulo.

cantora mariliense Clarice Sanches discursa e o radialista Wilson Matos segura o microfone da PRI-2. 
Clarice Sanches canta & encanta.

Radio era um meio-de-comunicação poderoso até 1960 [pelo menos]. Eu cresci ouvindo a Radio Clube de Marilia, e as duas 'menores', Vera Cruz e Radio Dirceu. No finalzinho de 1960, minha familia mudou-se de Marilia procurando novas oportunidades na grande metrópole de São Paulo. Aqui chegando, me esbaldei com o número incrivel de estações de radio, com paradas-de-sucesso praticamente diárias. Radio Bandeirantes era a mais popular em 1960-1961, mas também ouvíamos outras como a Radio Cultura, Radio Piratininga, Radio Excelsior, Radio Nacional, Radio Record e Radio Industrial-Paulista, situada no bairro de Pinheiros, na rua Butantã.

No entanto, depois de algum tempo, começou a bater uma saudade indescritível da Radio Clube de Marília e seus programa populares como 'Caixa de Pedidos Lever', 'A hora da polícia' e outros. Me lembro que sempre que possivel nós tentávamos sintonizar a Radio Clube, mas nunca conseguíamos, pois o sinal da emissora não devia ser muito forte, além das ondas encontrarem uma barreira de ondas poderosas das emissoras paulistanas. Certo dia, no período da tarde, acho que tinha chovido... nós conseguimos ouvir o sinal da Radio Clube de Marília e foi uma festa em casa. Minha Mãe e meus irmãos, todos nós pulamos de alegria de poder ouvir aquelas vozes tão familiares nossas. Acho que foi a voz da Marlene Leal que ouvimos naquela tarde milagrosa. Olha, foi só uma vez e nunca mais!

Com o passar dos anos, a tendência é de esquecimento... e os costumes vão mudando. De-repente a TV começou a dominar de tal maneira que o radio se tornou fraquinho e hoje ele é apenas um zumbi esperando a hora de ser enterrado de vez.   

Progamação especial da Radio Vera Cruz de Marília para a Semana Santa de 1964, alguns dias antes do malfadado Golpe Militar do dia 1o. de Abril de 1964 que mergulhou o país na Ignomínia.


WILSON MATTOS, o maior radialista de Marília em entrevista feita em 2012.

Entrevista de Wilson Mattos dada a Luiz Antonio Luz e publicada em 6 Abril 2012. Aqui está parte da entrevista; justamente aquela que se trata do período que nos interessa, que vai até 1964, com a trágica morte do famoso Pé-de-Veludo.

O interesse de Wilson Mattos pelo radio começou cedo quando ainda criança. Wilson Mattos nasceu em Marilia em 2 de Setembro de 1933. O resto é o próprio Wilson quem narra:

Em 1940/1942 os USA estando em guerra contra os países do Eixo pararam de fabricar radios para se dedicarem apenas à industria de armamentos e os aparelhos se tornaram escassos. Em Marilia havia poucos aparelhos de radio, dos quais um pertencia a meu pai.

Meus pais vieram da Bahia em 1928 ou 1930. Ele, como ferroviario da Cia. Paulista de Estrada de Ferro foi lotado aqui em Marilia, na area de engenharia.

P'ra você ter uma noção, na Avenida Independência, onde morávamos, só havia uma casa com rádio, que era a nossa; Então quando havia notícias sobre o desenrolar da Guerra todo mundo corria p'ra minha casa. Aquilo até parecia um cinema, com gente de todo quanto é lado, sentada na mesa, no chão, e eu alí no meio.

Wilson Mattos [centro] aos 15 anos cursando o E.T.C. de Marília.

Me chamava atenção quando ouvia o Heron Domingues falando o 'Reporter Esso' direto da Radio Nacional do Rio de Janeiro. Em São Paulo era transmitido pela Radio Tupi, com locução de Dalmácio Jordão. O famoso Reporter Esso foi criado pela Standard Oil Company of Brazil para dar noticias favoráveis sobre as tropas aliadas comandada pelos Estados Unidos. Eles criaram o programa para fazer lavagem cerebral nos brasileiros; para que quando entrássemos na Guerra fôssemos já admirando os USA como verdadeiros herois. As notícias eram só as de interesse deles.

Wilson Matos e seu amigo Antonio Beiro no final dos anos 40.

E o Assis Chateaubriand já controlava o radio?

Sim, portanto quando as tropas brasileiras foram p'ra Europa, a mente do nosso povo já estava formada contra o nazismo. Houvera dois anos de preparação. E foi assim que surgiu meu interesse pelo radio. O poder do radio era incrível. Depois de 2 ou 3 anos surgiu o Programa Infantil da Radio Clube de Marilia do qual eu participava, já fascinado por tudo isso.

Isso aconteceu em meados de 1942?

Sim, naquela época eu já pegava os jornais vindos de São Paulo, ia para algum cantinho e ficava lendo alto, treinando dicção, postura e interpretação. E quando teve concurso na Radio Clube, eu ganhei.

A Radio Clube de Marilia começou suas operações em 1936. O principal locutor era Moraes Barros. Eu participava do programa de calouros e acabava ganhando algum dinheiro. Depois de um estágio feito na própria Radio, eles me convidaram para ser locutor definitivo. Eu tinha 18 anos, embora já participasse de muitas atividade lá desde os 15 anos. Mas tendo ainda uma voz juvenil, eles esperaram que eu completasse 18 anos. Comecei lendo textos comerciais.

De narrador de textos passei a noticiarista. No começo ficava com mêdo de errar, mas depois adquiri traquejo, jogo-de-cintura, e o medo foi embora. Daí veio a época do improviso. Quando tínhamos conhecimento do assunto, acrescentávamos algum detalhe ao material que estava em nossa frente.

Em 1950/1952 eu criei o 'Reporter Frigidaire', patrocinado pela industria de geladeira que se instalou em Marilia. Então dava noticias pelo telefone de algum acidente ou morte trágica. Tudo 'ao vivo'; era uma grande novidade.

Daí passei a ter o 'Programa Wilson Mattos', onde lia a Crônica-de-Cinco-Minutos e fazia comentários sobre acontecimentos recentes.

O que mais me emocionou como radialista foi o confronto entre Guaracy Marques Pinto, o famoso Pé-de-Veludo, e a polícia de Marília em 9 de dezembro de 1964.

Ele era de uma familia tradicional daqui de Marília e seu apelido era Pé-de-Veludo porque entrava nas casas, roubava e ninguem percebia, pois não fazia barulho. O que mais me impressionou foram as cenas de tiroteiro entre ele e a policia. E o fato da policia o ter matado com uma arma proibida, o gas.

Foi a policia que o matou?

Sim, foi a policia. Ele se escondera num bunker e atirava contra a policia, que fez um buraco no seu esconderijo e jogou gas lá dentro.

Algum outro seu colega estava no local?

Somente eu e o Marques Beato. Então, aquilo me impressionou muito. Fiquei chocado. Era uma familia inteira que se uniu no confronto com a policia. Foi aquele fuzilamento, enfim, um caindo sobre o outro, e depois jogados como porcos na traseira de uma pick-up. Eu vi aquilo tudo e fui p'ra casa... era forte demais para mim. Mas até hoje estão na memória aqueles jovens cheios de sangue amontoados um em cima do outro.

para saber detalhes sobre a operação policial que ocasionou a chachina leia:  http://papodehomem.com.br/pe-de-veludo-homens-que-voce-deveria-conhecer-20/

Em 1952 foi criada a Radio Vera Cruz. Na verdade ela pertencia ao municipio de Vera Cruz, que sendo uma cidade pequena não tinha capacidade financeira para manter uma radio. Então os donos da concessão da radio instalaram seus estúdios na Galeria Santa Luzia, aqui na Avenida Sampaio Vidal. A certa altura os donos a venderam para a Igreja Santo Antonio e, finalmente, eu comprei 50% da emissora em 1989.

A Radio Dirceu veio em 1955. Era do deputado Miguel Leuzzi. Ele era ligado ao Presidente Juscelino Kubitschek e pediu que o Presidente lhe desse uma concessão para criar mais uma radio em Marilia, que estava crescendo muito. Juscelino respondeu: 'Miguel, só autorizo, se você criar uma radio associada ao nome do poeta Thomaz Antonio Gonzaga'. Nesse momento o Leuzzi pensou em Dirceu, que foi o grande amor de Marília na literatura dos Inconfidentes Mineiros, e a Radio Dirceu de Marilia passou a ser a terceira emissora da Cidade-Moça.

Marilia, então ficou com três emissoras de radio: Radio Clube de Marilia fundada em 1936; Radio Vera Cruz fundada em 1952 e finalmente a Radio Dirceu de Marilia em 1955.

Dalmacio Jordão, a pioneer in Marilia's microphones in a  Military document.
Wilson Mattos no 'aquario' da Radio Clube de Marilia.
No palco-auditório da Radio Clube de Marília.

Auditório Fernando Moraes Costa - da Radio Club de Marília 

No início, o rádio objetivava alta qualidade em seus programas, como expressa o radialista Wolner Camargo em artigo do Jornal Correio de Marília, no Natal de 1945, em sua coluna “Rádio e Educação”: “Indiscutivelmente, o rádio constitui um dos meios mais práticos e acessíveis à educação das massas”. Nesta fase, a programação musical era composta de musica erudita, audições de piano e música de câmara.

Localizada inicialmente no prédio ao lado do antigo Cine Bar, na Avenida Sampaio Vidal, a PRI-2 tinha um grande auditório denominado Fernando Moraes Costa e lá eram realizados programas com partição do público, programas de estúdio e audições de musica clássica. Sob a administração de dona Rosina de Moraes Costa, viúva do radialista Fernando Getúlio Costa, sócio-proprietário de Assis Chateaubriand na Rádio Difusora de São Paulo. D. Rosina foi grande incentivadora e promotora dos locutores que se destacavam na PRI-2, encaminhando os melhores para as Rádios Tupi e Difusora de São Paulo.

Rubens Coca Ramos, hoje jornalista, foi técnico de som da PRI-2 e Darcy Martinez Ramos, sua mulher, foi cantora e ‘Rainha do Radio’ na mesma emissora. Eles lembram o ambiente artístico dos anos 50 e o que acontecia no auditório da Radio Clube de Marília.

“A música regional tocava muito no rádio aqui em Marília. Muitos se destacaram nos programas de auditório como a dupla Vieira & Vierinha, que tocavam o estilo cateretê e gravaram mais de dez discos 78 rpm. Caim & Abel, que inicialmente eram Bolinha, Esmeralda & Periquito. Dentre os trios repentistas havia Zé Mineirinho, Tajubi & Lia Moreno, que ficaram famosos com a musica “Comigo é 8 ou 80”.

Na musica popular havia o talento de Clarice Sanches interpretando várias canções de Otavio Lignelli, tendo gravado o disco “A flor do amor”, fazendo dupla com o cantor mariliense Francisco Alves. Coca nos lembra também de Meire Vendromam, que hoje é proprietária de uma emissora de TV na Argentina.

Outros sucessos nos programas de rádio foram Joaquim Dias, conhecido como 'Sabonetão', Carlos Bortolotti, José Marques Beato e a esposa Maria Candelária; a Orquestra de Feis Féres, musico e patriarca de uma família musical que encantou toda a cidade por muitos anos em bailes e carnavais.  

No auditório da Rádio Clube faziam sucesso “Domingo é nosso”, “Romance do riso e do ritmo”, “Roda Gigante”, “Programa Infantil”, este patrocinado pelo Pastifício Marília, fazia a alegria da criançada nas manhãs de domingo.

Antes dos programas radiofônicos havia apresentações circences, com os malabaristas e palhaços do circo visitando a cidade no momento, como Circo Garcia, Circo Teatroscope.  As crianças ganhavam ingressos para o circo e a diversão do domingo a tarde ficava garantida.

Regional de Octavio Lignelli 

O Regional de Octavio Lignelli acompanhava tanto calouros como profissionais, tendo o mestre Lignelli ao violão, Deodato Stefanini no acordeom, João Correa Neto ao violão, João Anequini na flauta e Erasmo Gonçalves no 3º. violão.

Nos anos 1950, enquanto na Radio Nacional do Rio de Janeiro havia uma rivalidade entre Emilinha Borba e Marlene que se degladiando para vencerem o concurso de Rainha do Rádio, em Marília não era muito diferente.

Rainha do Rádio de Marília 

Em 1963, houve uma disputa de Rainha do Rádio que reuniu as Radios Dirceu, Vera Cruz e Clube de Marília.  A vencedora foi Darcy Martinez, que relembra o acontecido: “Os ouvintes tinham que ir até os estúdios de uma das emissoras e votar No dia da coroação, havia muitas apresentações musicais culminando com a revelação da vencedora, sua coroação e a passagem da faixa.

texto (modificado) de Wilza Matos. 

1 comment:

  1. "Saudade - Palavra única....."

    Estou escrevendo o livro "Saudade...":
    - Se se você já contribuiu, enviando seu depoimento, sua saudade, eu agradeço.
    - Se não, eu estou aguardando a sua valorosa contribuição.

    Para descrever "Saudade" não há uma regra, norma ou padrão. Pode ser a "Saudade" de alguém, algum familiar ou amigo. Pode ser algo que existia e não existe mais ou foi modificado em sua cidade. Enfim, Saudade, é "Saudade" e cada um tem a sua!

    Exemplos de saudades já recebidas e que irão para o livro:

    Eu tenho saudades dos...
    "Domingos na cidade de Pingo D'água, de manhã ajudávamos a podar o campo com trator e roçadeira, aquele cheiro da grama cortada ainda ficou até hoje, e é só passar perto de alguém podando um jardim e a lembrança vem na hora, e a tarde era hora de dar espetáculo com a camisa do Juping no campo que cuidamos com muito carinho."
    Adilson Begatti- Cronista Esportivo e Metalúrgico
    Coronel Fabriciano-MG

    Eu tenho saudades do...
    "Do tempo em que a praça da cidade tinha espaço para as crianças ...lago com peixinhos. Os "coquinhos" caiam pelo chão e as crianças se divertiam tentando abrí-los para comer. O espaço de areia era disputado e ninguém se importava em sujar os pés...não se ouvia os gritos das mães desesperadas e irritadas pelos filhos que insistiam em gastar dinheiro no "pula-pula". A diversão era interminável e gratuita."
    Ana Karina Veiga - Jornalista - Professora e Estudante de Direito
    Santos Dumont-MG

    Eu tenho saudades do...
    "Bonde em Campinas (SP), um veículo totalmente aberto, um convite pra gente sentir a brisa no rosto. E os cobradores, então! Dobravam o dinheiro de forma vertical e o colocada entre os dedos. Era o maior barato. Pena que em minha cidade eles pararam de circular em 1969, deixando muita saudade!"
    Ariovaldo Izac - Cronista Esportivo
    Campinas - SP

    Eu tenho saudade dos...
    "Bailes de carnaval nos clubes da cidade, na década de 1980, onde a diversão era muito mais sadia.Também tenho muita saudade quando eu apresentava bailes nos clubes de Juiz de Fora e cidades vizinhas. Saudade da eterna rádio Mundial 860, onde sempre buscava os novos hits para tocar no meu programa radiofônico. Bons tempos..."
    Carlos Augusto de Oliveira (Guto) - Radialista
    Juiz de Fora-MG

    Eu tenho saudade da...
    "Velha 'maria fumaça', aquele trem de ferro que soltava fumaça e à noite enfeitava o céu com fagulhas, coisa muito linda. O apito da velha "12" também me dá uma grande saudade. Eu morava em Uruçuca, na Bahia e viajava para Itabuna naquele trem, que "morrendo" nas ladeiras, mas subindo cansado, ele chegava lá. Muito lindo!".
    Odoaldo Vasconcelos Passos - Economista
    (Belém-PA)

    Eu tenho saudade de...
    "Em Pirapora, minha terra natal, dos meios de transportes: o trem de Pirapora para Corinto, Montes Claros e Belo Horizonte bem como os vapores de Pirapora até Juazeiro, na Bahia e Petrolina, em Pernambuco".
    Paulo Roberto Caldeira Brant - Comentarista Esportivo
    Poços de Caldas - MG

    Eu tenho saudade das...
    "Partidas de futebol que o Santos Futebol Clube, do bairro Floresta, realizava no campo da Fábrica de Tecidos São João Evangelista e que a família Carbogim era base do time, com Zé Alemão, Gabriel e Rafael, além de meu sobrinho Flávio, como mascote"
    Miguel Carbogim - in memoriam

    Att,
    Carlos Ferreira
    www.carlosferreirajf.blogspot.com
    Juiz de Fora-MG

    VEM AÍ...
    O Portal MULTIMÍDIA...

    ReplyDelete